Leonardo Rodrigues
São diversos os mananciais e rios que compõem o Litoral Norte Paulista, com cerca de 80% de área preservada. Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Água, na última quinta-feira, o Imprensa Livre buscou saber qual a trajetória da água, essencial para todas as formas conhecidas de vida, que abastece a região. Para cumprir essa missão, a reportagem foi até o Rio Paraíba, que possui dois pontos de captação de água para o uso e consumo da região, feitos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp.
O consumo de água do Litoral Norte apresenta picos durante a temporada. Prova disso são os números que revela que a produção nos meses comuns é de 10,2 milhões litros por dia. Já durante o verão, a produção intensifica e em dias de Carnaval registra-se 181,4 milhões de litros de água diariamente. Esse fato é justificado pelo aumento da população fixa do Litoral Norte, que de 300 mil pessoas, passa para cerca de 1 milhão durante a temporada.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cada pessoa consome em média 110 litros de água por dia. No Brasil, esse número sobre para 200 litros. Porém, acima de 120 litros de água por pessoa é considerado desperdício.
Matéria Prima
A reportagem, para exemplificar, esteve na parte baixa do Rio Paraíba, no segundo ponto de captação, que abastece a Região Sul de Caraguá, assim como a Costa Norte e Região Central de São Sebastião. Em toda extensão existem 23 pontos de captações de água. Para conseguir assistir toda a população regional, o Estado, por meio da Sabesp, utiliza 18 Estações de Tratamento de Água (ETA) e 53 reservatórios com capacidade de até 42,3 milhões de litros de água.
Na captação da água já inicia uma pré-seleção de limpeza, retendo por uma barragem de contenção em uma lagoa, materiais como galhos, folhas e objetos maiores.
A visita da reportagem foi acompanhada por José Bosco Fernandes de Castro, superintendente da Sabesp na região, que citou o trabalho também em períodos de chuva, característicos na região, para minimizar as possibilidades de reflexos no abastecimento de água. No entanto, Bosco confessa que o maior temor é quando há tromba de água, fenómeno meteorológico semelhante aos tornados que se forma sobre o mar, frequente nas regiões tropicais. No entanto, ele diz que hoje a estrutura da Sabesp no fornecimento de água não é afetada tão facilmente com as chuvas. “No geral, cerca de 80% das chuvas a população não sente”, assegura.
Bosco conta que há troca de informações com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sobre a previsão do tempo para que permita a realizações de ações preventivas para que o abestecimento não seja prejudicado.
Fábrica de água
A água proveniente dos rios e cachoeiras, depois de captada, recebe tratamento químico que garante qualidade, além do controle nas ETA´s. Bosco descreve que depois de captada no rio, “a próxima etapa é na Fabrica de Água”.
Na Fábrica de Água, é inserido cloro, cal e sulfato, em quantidades precisas para que se consiga o tratamento, desprendido de materias e controlando o PH da Água, expressão usada para falar do grau de alcalinidade ou acidez. Nesta etapa é observado também a cor e turbidez do líquido.
Depois de tratada, a água ainda tem longo caminho até chegar às residências. Prova disso, é que a captada na parte baixa do Rio Paraíba ainda será bombeada 22 km até o Centro de Caraguá, além de mais 35 km até a Região Central de São Sebastião, para que seja destribuida e possa ser vista assim que você abre a torneira.
Há outras medidas também tomadas para refletir na qualidade da água. Técnicos da Sabesp realizam a limpeza e desinfecção nos reservatórios, desassoreamento e manutenção na captção, além de descargas nas redes de distribuição. De acordo com a superintendência, os serviços são executados com o objetivo de manter e preservar o ecossistema dos mananciais.
Olhos da companhia
Contudo, a água captada, tratada e bombeada até a sua casa não encerra o processo que se usa no Estado para a utilização deste recurso natural. Há ainda uma última etapa, quando a água retorna às dependências da companhia. Porém, em quantidades menores, por amostras, segue para a Divisão de Controle Sanitário.
Agentes dessa divisão recolhem amostras em localidades aleatórias nas quatro cidades do Litoral Norte, sem sofrer interferência das unidades de tratamento da companhia, que nem é avisada de qual região a água está sendo coletada para amostra.
Na Divisão de Controle Sanitário da Sabesp do Litoral Norte, unidade modelo em todo o Estado, recolhe cerca de 80 amostras diariamente, o que contabiliza aproximadamente 24 mil análises mensais. Nas analises é verificada a qualidade da água, se há algum tipo de coliformes, além de checar a coloração e turbidez da água.
O biólogo da unidade, Osvaldo Osório Soares avalia que nesta etapa a água é verificada pelos “olhos da Sabesp”.
A companhia estadual cumpre legislação ao publicar mensalmente nas contas de água o resumo das análises de controle de qualidade. Anualmente também é encaminhado relatório referente à qualidade da água distribuída durante o ano.
Curiosidades
Água branca – Há ocasiões em que ao se abrir a torneira, a água sai branca. É comum às pessoas acreditarem que tal substancia branca é cloro. Mas não é. Trata-se apenas da molécula do oxigênio que devido à pressão no sistema se desprende das demais e dá a impressão de ser uma substancia a mais, o que não é. “Se você encher um copo com essa água e esperar 10 segundos perceberá que as moléculas serão reagrupadas e voltará ao normal, pronta para beber”, afirma Bosco.
Água barrenta – Outra situação também existente é quando se abre a torneira e se encontra uma coloração barrenta na água. A superintendência da Sabesp ressalta que em muitos casos o problema não está no tratamento e distribuição da água, mas pode estar na caixa d’água. Há casos em que por falta de manutenção, a água fica parada por muito tempo, sendo criando colônia de bactérias, ganhando coloração barrenta.
A Sabesp recomenda que a cada seis meses as caixas d’água devam ser lavadas e desinfetadas, para garantir qualidade do líquido consumido internamente.
Água de rio e cachoeiras – Existe o pensamento comum de que a água consumida direto de rios e cachoeiras é melhor por ser “natural, direto da fonte”. Porém, não é bem assim. Apesar de a água estar em seu estado de origem, não ter sofrido nenhuma ingerência, não tem como se evitar que animais urinem ou defequem nos rios, por se tratar justamente de um ambiente natural. A população deve ter o cuidado com bicas e fontes alternativas que podem ter a água contaminada e apresentar um risco a saúde.