Indireta, votação dará a 21% do eleitorado poder de escolher presidente no dia 6; comparecimento às urnas também é crucial
- Quando as urnas abrirem em 6 de novembro, o presidente dos EUA, Barack Obama, e seu rival republicano, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney , não estarão preocupados em vencer a eleição conquistando a maioria dos votos em nível nacional. Em vez disso, a atenção dos dois rivais estará centrada na escolha de 5% a 8% de eleitores em nove dos 50 Estados americanos que se declaravam indecisos nas pesquisas de intenção de voto.
Chamados de swing states (Estados-pêndulo, em tradução livre), Carolina do Norte, Colorado, Flórida, Iowa, Nevada, New Hampshire, Ohio, Virgínia e Wisconsin são cruciais porque o resultado de sua votação é incerto e porque totalizam 111 dos 538 votos do Colégio Eleitoral– órgão em que é necessário conquistar 270 votos para vencer.
Indireta, a eleição presidencial americana é determinada por disputas Estado por Estado e pelo número de votos a que cada um deles tem direito no Colégio Eleitoral. Ou, como resumiu aoiG Edward Grefe, professor da Faculdade de Gerenciamento Político da Universidade George Washington: “Não é uma eleição só. São 50 eleições.”
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A quantidade de votos de cada Estado corresponde ao número de seus legisladores no Congresso de 535 membros (100 no Senado e 435 na Câmara de Representantes). Apesar de não ter representação no Congresso, a capital Washington tem três votos – o número mínimo a que cada Estado tem direito. “Os Estados automaticamente têm dois votos – porque cada um tem dois senadores – e um número adicional relativo aos deputados federais. Com exceção do Maine e de Nebraska (que dividem seus votos proporcionalmente), o vencedor leva tudo nos outros Estados”, disse Tim Hagle, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Iowa.
49 milhões de eleitores
Dessa forma, 40 dos Estados americanos mais a capital têm relativa menor importância pelo fato de seu resultado ser bastante previsível. Com a certeza histórica de que Nova York votará na cor azul (democrata) na próxima semana, Romney não gastou dinheiro em viagens pelo Estado ou em muitos anúncios na TV. O mesmo fez Obama em relação ao Texas, que é consistentemente vermelho (republicano).
Portanto, Obama e Romney estão de olho em pouco mais de 49 milhões de pessoas com idade para votar em nove Estados – ou 21% dos quase 230 milhões com direito de voto nos EUA, segundo o Censo de 2010. Com base nos 49 milhões, seria possível até estimar que a eleição poderia ser definida por apenas 2,5 milhões a 4 milhões de eleitores relativos aos 5% a 8% de indecisos que as pesquisas indicam haver no país.
As eleições, porém, não são uma ciência exata e outra grande questão para as campanhas é a quantidade de eleitores que, num país onde o voto não é obrigatório, comparecerá às urnas nos principais Estados em jogo. “Estamos em uma eleição muito apertada com apenas duas coisas para fazer: persuadir os indecisos e fazer os eleitores votarem”, disse em 25 de outubro Jim Messina, gerente de campanha de Obama, segundo o jornal New York Times.
Em 2008, a campanha de “esperança e mudança” de Obama levou às urnas um número maior de jovens e de grupos como negros e hispânicos, que historicamente não votam. Segundo dados do Censo divulgados em julho de 2009, o entusiasmo eleitoral de quatro anos atrás estimulou um comparecimento eleitoral de 63,6%.
Mas o cenário é diferente neste ano por causa da crise econômica e porque Obama não é mais o candidato do “Yes, we can” (Sim, podemos), mas o presidente cujo primeiro mandato será posto em xeque nas urnas. “O entusiamo dos republicanos é alto porque estão determinados a derrotar Obama”, disse ao iG Robert J. Kabel, presidente do Partido Republicano em Washington.
Corrida eleitoral
Dos nove Estados-pêndulo, três são apontados por analistas como mais cruciais pelo tempo e dinheiro investidos pelos candidatos durante a campanha: Flórida (29 votos), Ohio (18) e Virgínia (13).
Pelo fato de nunca ter votado no perdedor desde 1960, o industrializado Ohio é visto como a joia da coroa e só perde para a Flórida como Estado mais visitado na corrida eleitoral. Durante a disputa, a campanha de Obama gastou US$ 57 milhões de anúncios locais, enquanto Romney investiu US$ 34 milhões, segundo a rede de TV CNN.
“Além de Ohio, Romney precisa ganhar na Flórida ou na Virgínia para ser eleito. Como tem mais possibilidades de combinações eleitorais, Obama pode ser reeleito ao vencer em Ohio, Wisconsin (10 votos), Iowa (6) ou Nevada (6)”, afirmou David Schultz, professor da Universidade Hamline em St. Paul, Minnesota.
Ao jornal New York Times, assessores das campanhas, funcionários dos partidos e estrategistas apontaram o caminho da vitória para os dois candidatos.
Para ser reeleito, Obama precisaria de Iowa, Ohio e Wisconsin somados aos Estados considerados resolutamente democratas. Uma vitória em Nevada poderia assegurar a reeleição no caso de Romney virar o jogo em Michigan (16). Já o republicano precisaria vencer na Flórida, Ohio, Carolina do Norte e Virgínia, além de Iowa, Wisconsin, Nevada e Colorado ou Michigan e a possível azul Pensilvânia (20).
Em 2008, Obama conquistou Ohio com 52% votos contra 47% de John McCain. Para assegurar o Estado neste ano, o democrata concentra sua campanha em lembrar os eleitores sobre o pacote de resgate à indústria automobilística de 2009, que salvou milhares de empregos no Estado.
Na Flórida, os 22,5% de hispânicos da população podem favorecer Obama, com exceção dos imigrantes cubanos na região de Miami, que por serem mais conservadores podem ajudar Romney.
O Estado também abriga americanos aposentados que dependem do sistema previdenciário federal e do Medicare, programa de saúde governamental para maiores de 65 anos. Alguns eleitores mais velhos podem temer que as propostas de corte do déficit de Romney possam reduzir seus benefícios.
Romney tem a seu favor o fato de a Flórida ter sofrido com a recessão causada pela crise de 2008, o que causou o colapso do mercado imobiliário local e deixou o Estado com alto desemprego. Já a Virgínia pode favorecer Obama por causa do aumento no número de funcionários da capital que vivem em seus subúrbios.
Mas, em uma eleição que promete ser uma das mais acirradas da história americana, o resultado dependerá da capacidade dos candidatos de mobilizar sua base eleitoral e, acima de tudo, da opção finalmente marcada na cédula eleitoral por americanos que deixaram em suspenso sua escolha até o dia de comparecer às urnas.