Médicos da Casa de Saúde Stella Maris de Caraguá paralisam atendimento por tempo indeterminado
Audiência conciliatória será feita hoje no Fórum de Caraguá, porém dívidas com profissionais é alta
Acácio Gomes
Cerca de 70 médicos que atendem na Casa de Saúde Stella Maris paralisaram ontem o atendimento feito na unidade hospitalar para pacientes do Sistema Único de Saúde e para os convênios. A decisão foi tomada por conta do não pagamento dos seus vencimentos salariais dos profissionais.
A reportagem do Imprensa Livre esteve na entrada da Casa de Saúde e verificou um cartaz escrito “Médicos paralisados”. Os funcionários foram orientados a informar que qualquer paciente, seja SUS ou particular, tinha que se encaminhar a Unidade de Pronto Atendimento do Jardim Primavera, para atendimento.
Mesmo sendo referência regional em relação à maternidade e a UTI neonatal os atendimentos também foram suspensos. Apenas pacientes já internados continuam sendo acompanhados.
Em nota, a direção da Casa de Saúde Stella Maris explica que em 25 de abril último foi protocolado na Prefeitura um ofício com o acordo financeiro para regularizar a situação dos médicos.
“A Casa de Saúde protocolou comunicado dos médicos e ata onde a consta assinatura de representantes da Prefeitura se comprometendo a pagar o montante de R$ 1,1 milhão para cobrir o déficit mensal, o que até o momento não foi cumprido. Isso ocasionou uma dívida acumulada de mais de R$ 4 milhões”, cita a entidade.
Ainda de acordo com a nota, em reunião realizada em 26 de junho, a Secretaria de Saúde do Estado propôs a contratualização de novos serviços (regionalizar o atendimento de média complexidade), porém não aceito pela direção da Casa de Saúde.
“O montante a ser pago nesse contrato seria de R$ 718 mil e não um repasse conforme afirma a administração. Salientamos que caso aceitássemos, isso somente aumentaria nossos custos, pois o cálculo para atender os procedimentos que contemplam essa proposta é de mais de R$ 1,1 milhão. De nada adianta a administração, através do secretário de Saúde, dizer que a Casa de Saúde não aceita ajuda, pois entendemos não se tratar de ajuda e sim de mais trabalho remunerado a um menor custo, o que prejudicaria as finanças da unidade. Se a Secretaria de Saúde se dignasse a pagar o valor correto não haveria o porquê não aceitarmos”, finaliza a nota a direção.
Conciliação?
Está marcada para hoje, a partir das 14h, uma audiência conciliatória entre médicos, direção da Casa de Saúde e representantes da Prefeitura para decidir o impasse. O encontro está marcado para o Fórum de Caraguatatuba.
Foi a segunda paralisação do atendimento médico na Casa de Saúde Stella Maris registrada este ano. O primeiro ato ocorreu em abril e dias depois um acordo foi feito com a categoria, que retornou as atividades.
A Prefeitura de Caraguatatuba, por meio da Assessoria de Imprensa, informou que a administração só irá se manifestar após a audiência conciliatória de hoje.
Greve em Caraguá surte efeito em São Sebastião, afirma Prefeitura
A interrupção do atendimento na Casa de Saúde Stella Maris provocou uma sobrecarga de pacientes no Hospital e Pronto-Socorro de São Sebastião. A informação foi dada pela Prefeitura de São Sebastião, por meio da Secretaria da Saúde.
“A Prefeitura de São Sebastião alerta a população do município para a possibilidade do aumento no tempo de espera para atendimento no Pronto Socorro Central e no Hospital de Clínicas. Este aumento de fluxo está sendo previsto devido a paralisação do atendimento médico da Santa Casa de Caraguatatuba, tendo por consequência a migração de pacientes para o hospital de São Sebastião”, citou em nota a Prefeitura ontem a tarde.
A paciente Kelly Isabel Marcos, de 20 anos, relata que esteve logo cedo na Santa Casa de Caraguatatuba com um quadro de sangramento gestacional e foi informada que não havia atendimento médico, sendo então orientada pela segurança do local a procurar atendimento em São Sebastião.
“Eu e meu marido ficamos assustados e decidimos vir para o HCSS e, chegando aqui, fui atendida rapidamente devido ao quadro, que levou ao rompimento da bolsa. Em torno do meio dia dei a luz e agradeço o ótimo atendimento que recebi permitindo estar aqui agora já amamentando minha filha”, declarou Kelly.
Já as gestantes Rosa Maria Benjamin dos Santos Marques, de 41 anos, e Patrícia da Silva Campos, de 14 anos, relatam que passaram pela UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e também foram direcionadas à São Sebastião.
Rosa havia sido encaminhada para consulta de pré-natal na Santa Casa Stela Maris e foi até lá sem encontrar atendimento, já Patrícia procurou a UPA porque sentia dores na barriga e ficou esperando por um bom tempo até que a trouxeram para o HCSS.
Segundo o diretor técnico do Hospital de São Sebastião, Valdir Luiz Pereira, a preocupação maior neste momento é em relação às cirurgias de emergência e partos.
“Já promovemos alterações em relação às cirurgias eletivas que foram suspensas para preparar o centro cirúrgico e receber as demandas de urgência”, disse.
O interventor do Hospital de Clínicas de São Sebastião, Claudio Delgado, alerta que a preparação que está sendo feita pela instituição altera a rotina local.
“A população precisa entender que a espera vai aumentar, mas que todos os que procurarem o hospital serão atendidos, respeitando sempre a classificação de risco”, ressaltou. (assessoria de imprensa da PMSS).
Foto: Acácio Gomes/IL