Uma séria de palestras com convidadas ilustres fez toda a diferença na programação de atividades promovidas pelo Setor de Educação Inclusiva da Secretaria de Educação de Caraguatatuba.
Uma delas foi a atriz, escritora, professora de línguas, intérprete e poliglota em 32 línguas de sinais, Sueli Ramalho Segala.
Sueli faz parte de um grupo de surdos oralizados que conseguem se comunicar por meio da escrita. São surdos Sulp (Surdos usuários de Língua Portuguesa).
#PraCegoVer: Em pé, palestrante interage com expectadora que formula pergunta. Palestrante realiza leitura orofacial. Ao seu lado, há vários educadores sentados em carteiras escolares. (Fotos: Denis Lavinas/PMC)
Ela proferiu duas palestras aos educadores da rede municipal e conheceu a escola bilíngue, Ricardo Luques, no bairro Praia das Palmeiras. Em sua palestra, ela compartilhou com os presentes um pouco de sua trajetória desde criança, aos desafios atuais.
Nascida em uma família com três gerações de surdos, Sueli conta que quando criança achava que todas as pessoas “que mexiam a boca” tinham deficiência e sentia dó das crianças que não sabiam se comunicar por meio de sinais.
Todos ficaram envolvidos com as experiências compartilhadas pela palestrante que contou de maneira leve sua trajetória que foi de muitas dificuldades, mas também de grandes superações.
Dentre as dificuldades pelas quais passava, ela conta que chorava muito quando recebia broncas de seus professores quando não conseguia fazer a leitura de textos, o que contribuiu para que repetisse de ano várias vezes.
A palestrante também relatou sobre o processo de discriminação e bullying que sofreu durante sua fase escolar e alertou sobre a atenção que deve ser dada ao assunto.
Sueli enfatiza a importância do contato com a cultura surda, dos estímulos que devem ser feitos desde o início da vida desse indivíduo.
Sobre seu desenvolvimento pessoal, que a levou a aprender a falar, ela conta que desde que começou a perceber que o mundo fora de sua família era diferente, teve vontade de estar inserida nesta sociedade. Para isso, tinha que saber se comunicar com ela. O que incluía falar. “Acredito que ter aprendido a falar foi um milagre e, claro, graças aos meus pais que me proporcionaram receber os estímulos. Alguém lá em cima gosta de mim”, explica.
#PraCegoVer: Profissionais da educação inclusiva posam para foto com palestrante. Uma delas faz o sinal de Libras. (Fotos: Denis Lavinas/PMC)
Atualmente, Sueli Ramalho Segala é atriz, escritora, professora de línguas, intérprete e poliglota em 32 línguas de sinais, uma grande estudiosa da língua de sinais. Ela explica que o interesse por esse assunto teve início quando, ainda pequena, percebeu que a língua de sinais não tem concordância nominal e verbal, preposição, artigos, e viu que as escritas de ouvintes tinham este fenômeno. “Eu tentava descobrir porque existia essa diferença, e isso me motivou a pesquisar cada vez mais. Meu pai recebia em nossa casa muitos surdos de outros países, e aprendi com esses estrangeiros. Eu ficava horas ouvindo, alias vendo, eles contarem histórias da cultura de outros países, através da própria língua estrangeira.”
Sueli conclui deixando importantes reflexões. Ela destaca a importância do ensino de Libras para a sociedade e, principalmente, para as famílias de pessoas surdas. “Há uma grande dificuldade das crianças surdas em comunicar-se com a própria família. É na família que acontece a primeira educação. Muitos pais querem aprender a se comunicar com seus filhos, mas não sabem como.”
O ensino de Libras é primordial para o desenvolvimento do surdo, porque esse indivíduo tem o recurso visual como suporte. Essa pessoa não tem recurso auditivo.
Os sinais indicam o caminho para diminuir as distâncias entre ouvintes e surdos.
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