‘A democracia prevaleceu’, diz Joe Biden ao tomar posse como presidente dos EUA
“Agora, neste solo sagrado, onde apenas há alguns dias a violência tentou chacoalhar as fundações do Capitólio, nos unimos como uma única nação, sob Deus, indivisível, para fazer uma transição pacífica de poder como temos feito há mais de dois séculos”, afirmou.
Biden fez seu discurso no mesmo local que há duas semanas foi invadido por militantes extremistas pró-Donald Trump, que se recusavam a aceitar o resultado da eleição.
O novo presidente agradeceu aos seus predecessores de ambos os partidos que compareceram à cerimônia. Os ex-presidente Bill Clinton, George Bush e Barack Obama participam da cerimônia. Trump não compareceu.
Biden citou minorias e ressaltou a luta de movimentos pelos direitos dos negros e das mulheres. Também fez um discurso sobre união, dizendo que vai governar tanto para os que o apoiaram quanto para os que não o apoiaram. “Vou ser o presidente de todos os americanos”.
O americano lamentou as mortes por covid-19 e disse que seu governo vai enfrentar desafios como a pandemia e a proliferação de supremacistas brancos e “terroristas domésticos”.
“As forças que nos dividem são profundas e reais — mas não são novas”, disse. “A batalha é contínua e nunca podemos achar que a vitória está garantida. Mas nossos melhores anjos sempre prevaleceram.”
Shows e juramento
Mais cedo na quarta, Biden participou de uma missa ao lado de líderes democratas e republicanos. Aos 78 anos, Biden é o presidente mais velho a assumir nos EUA.
Antes do juramento de Biden, a cerimônia de posse teve o juramento da vice-presidente Kamala Harris e apresentações de Lady Gaga — que cantou o hino nacional — e Jennifer Lopez.
Após o discurso de Biden, estava previsto um show com Bruce Springsteen, John Legend, Jon Bon Jovi, Justin Timberlake, e Demi Lovato.
Cidade sitiada
Desde a invasão do Capitólio, Washington D.C. está sob estado de emergência e nos dias que antecederam a posse foi se convertendo em uma cidade sitiada, com militares acampados em parquinhos e praças, blindados fechando quarteirões, viaturas policiais sobre as calçadas, helicópteros continuamente sobrevoando a região.
O FBI, órgão federal de investigação, colocou o país sob alerta máximo há uma semana. “Protestos armados estão sendo programados para os prédios legislativos dos 50 Estados entre 16 e 20 de janeiro, e o Capitólio americano de 17 a 20 de janeiro”, afirmou o órgão em comunicado.
Na última segunda-feira, 18, o FBI alertou as forças de segurança que seguidores da teoria conspiratória QAnon estavam tentando se infiltrar na Guarda Nacional para obter acesso à área da posse de Biden.
Na última terça-feira, a força de segurança afirmou que ao menos 12 agentes foram dispensados e estão sob investigação por “comportamento questionável”. Ao menos dois deles teriam “simpatia” pelos mesmos grupos extremistas envolvidos no ataque ao Capitólio há duas semanas.
Diante das circunstâncias, a prefeita da cidade, Muriel Bowser, fez um apelo aos americanos para que não viajassem à capital para a posse. “Se tenho medo de alguma coisa, é pela nossa democracia, porque temos facções muito extremistas em nosso país que estão armadas e são perigosas.” Os habitantes de Washington foram sensíveis às palavras da prefeita e as ruas da capital ficaram desertas nos últimos dias. Creches na região do Capitólio suspenderam as aulas, o comércio reforçou a fachada com tapumes e barricadas.
O nervosismo na cidade ficou evidente em dois episódios nos últimos cinco dias. O primeiro foi a prisão de um homem que portava uma arma e munições em um dos checkpoints próximos ao coração político da capital. Aparentemente, o homem não pretendia furar o perímetro de segurança, e sim havia se perdido no caminho. Ele foi colaborativo com os policiais e não teria ligações com grupos políticos.
O outro episódio foi a interrupção do ensaio para a posse e a decretação de lockdown no prédio do Capitólio, na segunda-feira, depois que um incêndio sem grandes proporções atingiu barracas de moradores de rua a quarteirões de distância.
Para o americanista Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da FAAP, a tensão é justificável. “Eu acho que o Joe Biden é o presidente que corre mais risco de ser assassinado nos últimos anos nos EUA, em um país que tem tradição de assassinar seus presidentes. A situação nos EUA é de tal ordem, essas milícias estão assanhadas e não é um país em que seria uma surpresa matarem um presidente”, diz Poggio.
Desde o século 19, houve ao menos 30 tentativas de assassinatos de mandatários no poder, recém-saídos ou ainda por serem empossados. Em quatro delas, o criminoso conseguiu matar o presidente dos EUA. O mais recente ataque aconteceu contra o republicano Donald Reagan, em 1981. Após um discurso em D.C., Reagan tomou um tiro que perfurou seu pulmão e chegou em estado grave ao hospital, mas sobreviveu.