Em carta de demissão, Marta Suplicy faz crítica indireta à política econômica
Senadora petista assumiu o Ministério da Cultura em setembro de 2012.
Relação da ministra com Dilma Rousseff se desgastou nos últimos meses.
Filipe Matoso e Lucas Salomão
Do G1, em Brasília
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Ministra da Cultura, Marta Suplicy, anuncia 500 bolsas para interessados em áreas de humanas. (Foto: Reprodução/Agência Brasil)
A petista Marta Suplicy pediu, por meio de carta,
demissão do cargo de ministra da Cultura.
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, entregou na manhã desta terça-feira (11) carta de demissão ao Palácio do Planalto, informou a assessoria da pasta. No texto, a petista fez críticas indiretas à condução da política econômica no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
A ministra demissionária escreveu no documento protocolado nesta terça na Casa Civil esperar que, em seu segundo governo, Dilma escolha uma equipe econômica que “resgate a confiança e credibilidade” da atual administração. Ainda segundo ela, os novos comandantes da economia, “acima de tudo”, devem estar comprometidos com o crescimento do país.
“Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera”, afirmou a petista na carta de demissão.
Com a decisão de deixar a Esplanada dos Ministérios, Marta Suplicy retomará sua cadeira no Senado. Eleita por São Paulo, ela tem mandato até 2018. A Presidência não comunicou quem sucederá a petista no Ministério da Cultura. Interinamente, informou a assessoria da pasta, assumirá a secretária-executiva do ministério, Ana Cristina Wanzeler.
A saída da ex-prefeita paulistana é a primeira mudança no primeiro escalão de Dilma depois da eleição presidencial. Marta chefiava a pasta da Cultura desde setembro de 2012. Ela havia substituído Ana de Hollanda no cargo.
Na última terça-feira (4), o Blog da Cristiana Lôbo informou que Marta tinha decidido se antecipar à reforma ministerial do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e pedir demissão do Ministério da Cultura. No dia seguinte, a ministra admitiu a jornalistas durante evento no Palácio do Planalto que estava “conversando” sobre sua possível saída do ministério.
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‘Volta Lula’
No meio político, eram frequentes os comentários de que a relação entre Marta e Dilma havia se desgastado ao longo do ano. Segundo o Blog do Camarotti, o fato de a ministra da Cultura ter articulado no início do ano o movimento “Volta, Lula”, para defender a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição deste ano, gerou mal-estar com a atual chefe do Executivo.
Em outro trecho da carta de demissão, Marta agradeceu “a honra” de ter sido convidada a comandar a Cultura. Ela também destacou no texto que encerra sua gestão à frente da pasta com a sensação de “missão cumprida”.
A senadora paulista ressaltou no pedido de demissão que “não se apequenou” durante o período em que foi ministra e que geriu a pasta “com coragem e determinação”.
“Por esta oportunidade de servir nosso país nesta função tão especial, de conhecer melhor e conviver com o povo da cultura, estar mais próxima de nossos artistas e raízes profundas, lhe sou grata […] Na condução do Ministério da Cultura, e como Senadora licenciada pelo PT, não me apequenei, o fiz com coragem e determinação”, escreveu a ministra demissionária à presidente da República.
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão de Marta Suplicy:
Brasília, 11 de novembro de 2014.
À Excelentíssima Senhora Presidenta da República Dilma Rousseff,
Presidenta Dilma,
Agradeço a honra a mim concedida com o convite para ser Ministra de Estado da Cultura do Brasil nos últimos dois anos de seu governo. Encerro hoje a presente etapa com minha missão cumprida, razão pela qual apresento meu pedido de demissão.
Ao lado de minha valorosa equipe, à qual sou muito grata, tivemos a possibilidade de construir caminhos e encaminhar soluções para nossas sete importantes instituições e fundações coligadas, assim como também pudemos apresentar um país diferente no exterior.
Em meio a inúmeras demandas e carências orçamentárias do Ministério da Cultura, focamos nosso trabalho em valores que nos são preciosos: inclusão da população na produção de cultura e ampliação do acesso aos bens culturais.
Para que o legado de Vossa Excelência viesse a ser sólido, nos dedicamos a viabilizar a aprovação, com êxito, de um conjunto de leis por anos pendentes no Congresso, que possibilitaram criar a coluna vertebral de políticas de Estado da Cultura.
Em dois anos aprovamos o Sistema Nacional de Cultura, o Vale-Cultura, a Lei da Cultura Viva, o Marco Civil da Internet, a Lei de fiscalização do Ecad, a PEC da Música, além de ter enviado à Casa Civil, onde aguardam encaminhamento, o Direito Autoral e a Lei da Meia Entrada.
Por esta oportunidade de servir nosso país nesta função tão especial, de conhecer melhor e conviver com o povo da cultura, estar mais próxima de nossos artistas e raízes profundas, lhe sou grata.
Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera.
Volto para o Senado Federal para representar o Estado de São Paulo, por mais quatro anos, com muito vigor, energia e com o firme propósito de fazê-lo com amplitude, seriedade e grandeza. Na condução do Ministério da Cultura, e como Senadora licenciada pelo PT, não me apequenei, o fiz com coragem e determinação. Não fugi à responsabilidade de meu compromisso público ao me posicionar e ter feito o que acreditava ser o melhor para o Brasil e para o povo brasileiro.