As câmeras fotográficas profissionais tradicionais chamavam-se SLR (single lens reflex), pois seu mecanismo se baseava num sistema de espelho móvel. As versões digitais dessas câmeras são as DSLR. Até pouco tempo essas digitais se diferenciavam de produtos mais populares por não capturarem vídeo. Isso se devia em parte ao funcionamento do próprio mecanismo de espelho que herdaram das primas analógicas, mas também porque os fabricantes não viam necessidade para a função de vídeo, pois direcionavam esses equipamentos apenas para o mercado fotográfico tradicional.
Há pouco tempo isso começou a mudar com o lançamento pela Canon em 2008 de uma câmera fotográfica DSLR capaz de filmar em Full HD (1920 × 1080 px): a idolatrada 5D Mark II.
Curiosamente a Canon parecia inicialmente não apostar muito nessa característica. O objetivo inicial do fabricante era fornecer uma função acessória de captura em vídeo especialmente destinada a fotógrafos de jornalismo. Entretanto, essa funçãozinha desimportante deu inicio a uma revolução no mercado audiovisual. A 5D passou a ser usada não apenas por fotógrafos, mas por cinegrafistas ávidos por imagens em vídeo com qualidade cinematográficas.
Isso se deu em grande parte porque a Canon 5D Mark II apresentava um sensor 35mm full frame, diferentemente de outras fotográficas e da maioria das câmeras de vídeo que possuem sensores pequenos. Essa característica, associada ao acesso a excelentes objetivas fotográficas, dotava a 5D da capacidade de capturar imagens em vídeo HD muito próximas visualmente às obtidas com caríssimas filmadoras analógicas (de película) ou cinematográficas digitais, como a RED.
A qualidade de imagem obtida a um custo comparativamente muito mais baixo tem estimulado um uso crescente dessas câmeras como filmadoras entre amadores e segmentos do audiovisual profissional, com o o publicitário. O sucesso obrigou os fabricantes de câmeras a lançarem novos modelos e fez crescer também um vasto mercado de apetrechos que ajudam a minimizar o inconveniente que é filmar com um dispositivo fisicamente desenhado para apenas fotografar.
Hoje o segmento de câmeras fotográficas semiprofissionais ou profissionais capazes de produzir filmes é conhecido como HDSLR. Basicamente o mercado é dominado pela pioneira Canon com destaque para os modelos T2i, 60D, 7D e 5D Mark II. Seus preços nos EUA (sem objetiva inclusa) são respectivamente: US$ 800, US$ 1.100, US$ 1.600 e US$ 2.500.
O que diferencia esses modelos é disponibilidade de controles, a robustez do material de fabricação e a qualidade do processador de imagem. Quanto mais caro, melhor… mas essa lógica afeta mais a fotografia em still do que a captura de filmes. Surpreendentemente, comenta-se que T2i, 60D e 7D são idênticas em relação à qualidade de vídeo. Apenas a 5D se diferencia devido ao sensor full frame (35mm), o que possibilita menor profundidade de campo e maior sensibilidade à luminosidade. Mas fora isso, a 5D e a T2i filmam de modo quase idêntico.
Como em qualidade de vídeo as câmeras se equivalem, a diferença importante se desloca para a qualidade da objetiva a ser usada. Por isso, economize na câmera, mas não na lente. É melhor uma T2i com uma boa objetiva do que uma 5D com uma zoom de baixo custo. Caso seu objetivo seja basicamente filmar, mas eventualmente deseja fotografar com mais qualidade, a Canon 60D parece ser hoje a melhor relação custo benefício. Em especial por ser a única que apresenta um visor móvel, o que ajuda muito em certas situações de filmagem.
As lentes de melhor qualidades são em geral as fixas luminosas (f1.8 ou menos). Ter uma boa 28mm e outra 50mm é melhor que uma única zoom… No momento da escolha, lembre ainda que as câmeras que não são full frame apresentam um fator de corte de imagem que corresponde a um zoom ao nível do sensor. Com isso uma lente normal 50mm funcionará como uma tele 80mm nas T2i, 60D e 7D.
Observação: Apesar de oferecerem qualidades similares à imagem cinematográfica, essas câmeras fotográficas estão inscritas no segmento de “vídeo HD” (1920 pontos de largura por 1080 de altura). Elas não se enquadram no restrito mercado de “cinema digital”, onde as câmeras devem capturar em resolução 4K (4096 pixels de largura por frame). Isso todavia não impede que que material filmado numa HDSLR a 24 quadros por segundo seja transposto para película cinematográfica em resolução 2K (2048 pontos de largura), que é hoje o padrão para exibição.
Dicas:
- Nenhuma dessas câmeras apresenta boa qualidade de captura de som. Elas dependem de um bom gravador de campo externo e isso implica empregar algumas estratégias para sincronizar imagem e som na pós-produção. Usar uma claquete no momento da filmagem de cada tomada é fundamental.
- Tenha um bom tripé (com cabeça para vídeo e não para foto). Um monopé também é interessante, pois pode dar flexibilidade para filmagens mais livres. De todo modo, não dá pra filmar com essas câmeras leves na mão sem um acessório apropriado, como por exemplo os da Zacuto.
- Cartões de memória são fundamentais. Compre ao menos dois (um sempre pode pifar e te deixar na mão) com a maior capacidade possível. Entretanto, o mais importante é a velocidade de gravação.
- Grave sempre na maior resolução (1920x1080p) e use frequências de quadros por segundo consistentes dentro do mesmo projeto: 24 ou 30 fps, mas nunca misture os dois no mesmo filme.
- Essas câmeras gravam vídeo em um formato ruim para edição (h.264). Para edições no Final Cut Pro, por exemplo, o recomendável é transformar os arquivos para Apple ProRes 422 ou ProRes LT via um plugin especial da Canon que funciona no LOG AND TRANSFER, ou com o gratuito e ótimo MPEG Streamclip.
- Importante: sempre mantenha uma cópia do conteúdo original e integral do cartão de memória em pastas no seu HD.