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O livro Uma Fazenda Inglesa no Universo Caiçara narra alguns episódios históricos ainda pouco conhecidos: a chegada de imigrantes britânicos em território nacional; a produção de cítricos para exportação à Inglaterra, por quase uma década; a devastação da pequena cidade no litoral paulista, em decorrência de um desabamento de terra. A população de Caraguatatuba, poderá relembrar esses e alguns outros trechos da História do Brasil durante o lançamento da publicação na próxima terça-feira.
O evento vai ocorrer no próprio solo da antiga fazenda, hoje ocupado em parte pelo Serramar Parque Shopping. Após o lançamento na Livraria Nobel, haverá a exibição do documentário Grapefruit com Banana, que complementa a publicação. De autoria da historiadora Glória Kok, o livro foi produzido pela Editora Neotropica e patrocinado pelo Grupo Serveng.
Para inglês comer
A história de um grande empreendimento britânico no Litoral Norte é narrada neste livro, que trás ainda a origem da cidade de Caraguatatuba, fundada no século 17 e situa elementos do universo caiçara.
O que quer dizer Caraguatatuba? Para alguns, essa denominação significa ’sítio abundante em caraguatás’, uma bromélia também conhecida como gravatá, caragoatá ou caraguatá, característica da flora brasileira da Mata Atlântica, da qual os jesuítas, durante o período colonial, extraíam as fibras para confeccionar suas sandálias. Outra interpretação, de autoria de João Mendes de Almeida, é a de que a palavra seria uma corruptela do tupi Curaeguat-aty-ba, que quer dizer ‘enseada com alto e baixo’, o que seria assim uma descrição topográfica adequada à região.
No início do século 20, um grupo inglês comprou 4 mil alqueires de terra junto à cidade litorânea do estado São Paulo, com então cerca de 3 mil habitantes. Ali montou uma grande operação de produção de frutos para o mercado inglês. Durante dez anos, entre 1929 e 1939, a Fazenda dos Ingleses, como era popularmente conhecida a propriedade, produziu toneladas de frutas, principalmente banana e grapefruit, que semanalmente abarrotavam cargueiros da companhia inglesa de navegação Blue Star Line. Do porto de Liverpool, eram distribuídos os cachos de bananas e os cítricos, cuidadosamente embalados em papel azul, para o deleite dos súditos de sua Majestade, o rei George VI.
“Nós temos pautado nossa produção pela história não contada ou pouco contada do Brasil. Há muito que descobrir, e nessa busca, acabamos achando algo logo ali, no nosso litoral, que pouca gente sabia. A Fazenda dos Ingleses chegou a ter uma população igual à da cidade de Caraguatatuba, e uma infraestrutura melhor”, conta Sérgio Pompéia, publisher da Editora Neotropica. Os imigrantes que ali trabalhavam trouxeram os costumes do povo inglês, como o chá das cinco.
O percurso das frutas
Dois dias antes da chegada dos navios em São Sebastião, as bananas eram separadas e selecionados os cachos com mais de oito pencas. A média da remessa semanal era de 35 a 40 mil cachos.
Cada cacho era limpo de folhas e sujeira, acondicionados em sacos de papel kraft, envoltos por esteira de taboa e cuidadosamente empilhados. As bananas eram enviadas com o propósito de chegar na Europa ainda verdes e não amadurecerem na viagem, pois o mar é muito quente e as faz apodrecer depressa.
Já as colheitas de laranjas e pomelos eram feitas por trabalhadores, que, com luvas, tesouras e escadas apropriadas, punham as frutas em bolsas de lona a tiracolo e depois as colocavam nas caixas de campo. De lá, eram levadas às câmaras de coloração para uniformizar a sua cor. Depois, despejadas em tanques de lavagem para a remoção de sujeira e qualquer detrito. A seguir, levadas por transportadores mecânicos para as máquinas escavadeiras, que completavam a limpeza e, ao mesmo tempo, lustravam toda a superfície com parafina.
Uma a uma, as frutas passavam por uma máquina de carimbar, onde recebiam a marca Tropigold. Por último, os cítricos passavam pela máquina classificadora, que as separava por tamanho, caindo nas respectivas divisões. As frutas defeituosas, picadas por moscas ou com mais de ¼ da superfície manchada ou deformada, eram recusadas. Apenas as frutas em perfeitas condições eram envolvidas em papel de seda e acondicionadas em caixas de exportação. A famosa marca brasileira de Caraguatatuba conquistou o mercado de Londres como sinônimo de qualidade, suco abundante e excelente sabor. Dizem que na Casa Real só se consumia essa marca e que chegou a ser elogiada pelo rei George V.
Uma guerra no caminho
Os dez anos de ouro da fazenda foram interrompidos pela segunda Grande Guerra. Entre 1939 e 1945, o movimento por ali praticamente parou. Uma Fazenda Inglesa no Universo Caiçara conta essa história colocando os fatos que levaram à criação do empreendimento, seu apogeu e sua decadência no contexto histórico. “É fundamental que quem leia o livro entenda o mundo que cercava o tema”, afirma Pompéia, que lembra sobre as características educacionais que a Neotropica procura imprimir em seus produtos.
A publicação aborda também um fato crucial da história de Caraguatatuba, e que contribuiu na decisão de encerrar o empreendimento britânico no Brasil: o grande deslizamento de terra que ocorreu em 1967 e quase destruiu a cidade. O resgate desse episódio dramático é muito bem ilustrado com imagens de arquivo e a descrição da tragédia. Após o salvamento e recuperação da população local, os moradores se apropriaram da história da fazenda como patrimônio histórico e cultural da região.
Serviço
Lançamento do livro Uma Fazenda Inglesa no Universo Caiçara.
Exibição do documentário Grapefruit com Banana: Uma Fazenda Inglesa no Universo Caiçara
Data: terça-feira, 10 de julho
Hora: a partir de 19h
Local: lançamento na Livraria Nobel e exibição de vídeo na sala de cinema Serramar Parque Shopping – Caraguatatuba, SP
À venda no local e pelo site www.editoraneotropica.com.br
Mais informações: www.editoraneotropica.com.br/fazendadosingleses/