Ubatuba, terra dos índios canoeiros, comemora hoje 375 anos de emancipação político-administrativa
A cidade foi palco de importantes passagens da história do Brasil
Terra dos índios canoeiros, os Tupinambás, Ubatuba completa 375 anos de emancipação político-administrativa neste domingo. Muita gente não sabe, mas a cidade foi palco de importantes passagens da história do Brasil. Tudo começou alguns anos depois do descobrimento, quando a cidade ainda era chamada de Aldeia de Iperoig. À época, portugueses e franceses invadiam a região pelo mar. A intenção era pilhar as riquezas, colonizar a área e escravizar a população nativa. Em 1554, Ubatuba passou a categoria de vila. O tempo era de guerra diplomática entre portugueses e franceses. Os governos dos dois países digladiavam-se em reuniões infindas e trocas de cartas para saber quem ficaria com a posse das terras recém-descobertas.
Em nome do rei Henrique II, os franceses tinham a seu favor a excelente relação e o apoio dos Tupinambás. Em nome da Coroa, os portugueses – em maior número – contavam com a amizade dos Tupiniquins e com um poderoso aparato militar. Foi então que sob a liderança do Tupinambá Cunhambebe, índios locais uniram-se aos Tupiniquins em uma espécie de organização política. A intenção do movimento, além de resistir à escravidão imposta pelos invasores portugueses e franceses, era garantir a posse da terra herdada de seus ancestrais. Na língua dos Tupinambás, Tamoios significa: os donos da terra.
Temerários com o desfecho do conflito, os portugueses enviaram em 1563 os negociadores e padres jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega em missão de paz. A “comissão diplomática” tinha o duro objetivo de acalmar e pacificar os índios. Não foi fácil, mas Padre Anchieta obteve sucesso. Depois de reunir-se com as tribos lideradas por Cunhambebe e ficar de prisioneiro como garantia, conseguiu enviar Nóbrega a São Paulo para concluir o Tratado da Paz de Iperoig, considerado o primeiro das Américas.
Historiadores afirmam que a Paz de Iperoig, assinada no dia 14 de setembro de 1563, representou a expulsão definitiva dos franceses, a pacificação dos índios, a aniquilação de algumas tribos e impediu que as Vilas de São Paulo e São Vicente fossem invadidas e destruídas pelos Tamoios.
Mediante os fatos, o Governador Geral do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, decidiu colonizar a região e enviou os primeiros moradores para garantir a posse da terra para a Coroa Portuguesa.
Em 28 de Outubro de 1637, com o nome de Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubatuba, tendo como fundador Jordão Albernaz Homem da Costa, nobre português das ilhas dos Açores, o povoado conseguiu sua emancipação político-administrativa e foi elevado à categoria de Vila.
Os primeiros anos foram duros para a população ubatubense. A pobreza e a falta de recursos permaneceram até o final do séc. XVIII, quando a chegada dos derivados de cana-de-açucar nos mercados do velho mundo alavancou a economia da cidade.
Em 1787, o presidente da Província de São Paulo, Bernardo José de Lorena, decretou que todas as embarcações do litoral seriam obrigadas a se dirigir ao porto de Santos. A partir dessa medida, os grandes produtores da cidade abandonaram os canaviais e Ubatuba entrou em franca decadência. Os que ficaram passaram a cultivar apenas o necessário para a subsistência.
A situação melhorou novamente a partir de 1808, depois da reabertura dos portos. A medida beneficiou diretamente a Vila de Ubatuba. O comércio ganhou impulso com o cultivo do café no próprio município. Os grãos eram enviados diretamente ao Rio de Janeiro. Mais que isso, as plantações de café se espalharam pelo Vale do Paraíba e privilegiada pelo fácil acesso a Taubaté, Ubatuba passou a ser o grande porto exportador da região.
A cidade foi muito bem nessa época e ocupava o primeiro lugar na renda municipal do Estado. O desenvolvimento chegou com tudo e foram abertas novas ruas, construídas novas igrejas, um mercado municipal e até mesmo um chafariz com água encanada, representação de luxo para as Vilas da época, acabou construído.
É nesse apogeu que Ubatuba é elevada à categoria de cidade em 1855 e é elevada à comarca, junto com São José dos Campos, em 1872. Sua população era de aproximadamente 7.565 habitantes.
A economia cafeeira, se por um lado permitiu que a Vila alcançasse o status de cidade, por outro, levou o município ao declínio quando resolveu se afastar. Em certo momento do Séc XVIII, as grandes plantações de café deslocaram-se para o oeste paulista e provocaram a decadência econômica do Vale do Paraíba. Ubatuba, seu porto de exportação, não tinha como escapar. Informações indicam que entre 1870 e 1932 a cidade ficou isolada e decadente. As terras desvalorizaram-se, as grandes residências transformaram-se em ruínas. Em 1940 a população se resumia a 3.227 habitantes.
Após a Revolução Constitucionalista em 1932, com o objetivo de integrar a região, cujo isolamento ficou patente no conflito, o Governo Estadual promoveu melhorias na Rodovia Oswaldo Cruz e a cidade passou a contar com uma ligação permanente com o Vale. É aí que os turistas começam a chegar. No início da década de 50, acontece a inauguração da SP55, (Ubatuba-Caraguatatuba). O turismo continua crescendo e com ele vem a especulação imobiliária. Em 1967, Ubatuba é elevada a categoria de Estância Balneária e depois da abertura da Rodovia Rio-Santos, em 1975, o turismo torna-se a principal fonte de renda da população local.
Foto: Jorge Mesquita/IL