Casa de Saúde Stella Maris admite não “ter pernas” para atendimentos complexos sem repasse da Prefeitura
A direção da Casa de Saúde convocou coletiva de imprensa para apresentar relatórios financeiros
Acácio Gomes
A polêmica envolvendo as autoridades ligadas à saúde na cidade continua. Na última sexta-feira, a direção da Casa de Saúde Stella Maris convocou entrevista coletiva para apresentar os motivos do impasse entre Prefeitura e Irmandade. O gerente de Relações Institucionais da Casa de Saúde Stella Maris, Amauri Toledo, apresentou relatórios financeiros que mostram que as contas da entidade estão no vermelho.
“Entramos no especial para pagar fornecedores e funcionários. Nosso déficit mensal era de R$ 390 mil antes da saída do Pronto Socorro. Após a saída do Pronto Socorro a situação ficou pior, o déficit atual é de R$ 850 mil por mês”.
Ele demonstrou preocupação com a Saúde na cidade. “A prefeitura inaugurou a UPA e por decisão do prefeito e de uma liminar fechou o Pronto Socorro. Nós não somos mais a instituição que faz o primeiro atendimento a população. O prefeito que decidiu que os casos de baixa complexidade fossem atendimentos na UPA”, diz.
Toledo afirmou que a Prefeitura quer que a Casa de Saúde faça o serviço de média e alta complexidade sem remuneração. “Parece estranho, mas a prefeitura quer que a gente preste este serviço sem pagar por ele. Vivemos no vermelho, mas conseguimos sobreviver com uma mágica financeira”, conta.
Porém, ele projetou que as dificuldades vão aumentar. “Estou preocupado com a saúde da população, não apenas por causa da liminar, mas pela nossa missão e vocação. Temos feito isto há 60 anos e continuaremos fazendo. Só não sabemos até onde e quando vamos conseguir atender, sem receber pelo que é justo e ainda com uma dívida financeira aumentando”, disse.
Local inapropriado
Também presente na coletiva, o diretor clínico da Casa de Saúde Stella Maris, Márcio Rios, acha que a prefeitura cometeu erros na hora de gerir o sistema de saúde, o que estaria causando prejuízo aos cofres públicos.
“Precisamos tomar cuidado com quem gere a saúde. Ouvi o secretário de Saúde dizendo que o dinheiro repassado para a entidade paga tudo. Sou conhecido na cidade e aonde vou todos me conhecem. Precisamos tomar cuidado com as pessoas que vem de fora para gerir a saúde. Queremos parceria e não embate, ingerência política na saúde não funciona”, comentou o médico.
Ele desmente o que considera a indústria da boataria, a notícia de que médicos da Casa de Saúde receberiam R$ 40 mil por mês e não estariam trabalhando. “Duvido alguém provar isso e se trouxerem o nome de um médico que estaria fazendo, eu mostro o holerite dele”.
Os gestores apresentaram ainda na coletiva o que consideram como elefante branco. “Estudos técnicos indicaram que o local mais indicado para ter um Pronto Socorro em Caraguá é incorporado a um Hospital para não ter outros gastos. Sabemos que o Pronto Socorro do Hospital funcionava em local inapropriado, mas nós queríamos investir num novo Pronto Socorro. E o Governo do Estado investiu R$ 1 milhão no prédio anexo ao Hospital, onde seria o Pronto Socorro. Mas a obra está abandonada e houve desperdício do dinheiro público. Esse foi o primeiro erro da gestão, abandonar o esqueleto de um prédio, no qual o Governo do Estado investiu R$ 1 milhão e abandonou”, apontou.
Segundo a direção da Casa de Saúde, a Prefeitura custeava o antigo Pronto Socorro com menos de R$ 1 milhão, pois de acordo com os relatórios apresentados do valor de R$ 1,2 milhão repassados mensalmente, cerca de R$ 120 mil era para o laboratório de análises clínicas. “Já a UPA começou a funcionar com um repasse de R$ 1,3 milhão para atender apenas baixa complexidade. No Hospital Stella Maris atendemos a média e alta complexidade e agora se gasta mais para fazer apenas o primeiro atendimento. São mais de R$ 400 mil que estão sendo desperdiçados, pois no Hospital, o gasto era menor e atendíamos todos os casos de urgência e emergência, seja de baixa, média e alta complexidade”, explicou Amauri Toledo. De acordo com o gerente, mesmo com o repasse confirmado por parte da Prefeitura na ordem de R$ 200 mil referente ao Pró Santa Casa para atender urgência e emergência, a realidade é outra.
“Essa verba é para cobrir os custos do SUS de internação. Tanto que é que muitas Santas Casas do Estado recebem esta verba como auxílio, pois o valor pago pelo SUS é baixo. O valor não inclui manter uma Sala de Emergência com toda estrutura de retaguarda para atender casos de média e alta complexidade”, ressaltou. Mesmo no vermelho e com o duelo travado entre Prefeitura e Casa de Saúde, a direção da entidade propõe a bandeira da paz.
“O Hospital está oferecendo a oportunidade de o prefeito resolver grande parte dos problemas de saúde do município. Só precisa pagar pelos serviços prestados de média e alta complexidade. Pagar por este serviço de forma justa e igualitária, como faz com os profissionais da UPA. O valor que propormos de repasse é de R$ 682.853,00, valor que conseguimos reduzir para R$ 528 mil”, finalizou o gerente de Relações Institucionais, Amauri Toledo.
Gerente nega omissão de socorro e informações desencontradas de vagas na UTI
O gerente de Relações Institucional da Casa de Saúde Stella Maris, Amauri Toledo, negou qualquer caso de omissão de socorro por parte da entidade, bem como dificultar a liberação de vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) quando solicitada pela direção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Não tivemos casos de omissão de socorro. A senhora de 72 anos foi atendida por nosso médico”, disse Toledo.
Reportagem divulgada pelo Imprensa Livre na última semana mostrou denúncia de moradores sobre omissão de socorro por parte da Casa de Saúde a uma senhora de 72 anos.
Questionado pela reportagem se o atendimento constava um exame de raio-x, já que a senhora havia batido a cabeça, o gerente respondeu: “isso tem que ser feito na UPA”.
Em relação a afirmação do gestor da UPA, Aldo Tessaroto, de que haveria necessidade de acionar um auditor para conseguir vagas na UTI da Casa de Saúde, Amauri Toledo, também negou a suposta retaliação.
“De jeito nenhum isso acontece, tanto que eu tenho uma funcionária só para isso, que informa de hora em hora a UPA se há ou não vaga de leitos. Mas se não tem vagas, não temos como fazer nada. Até ligamos em outras unidades para tentar ajudar na procura por uma vaga”, disse.
Foto: Jorge Mesquita/IL