Dersa oferta até 4 mil vagas de emprego para construção do Contorno Sul durante encontro no Jaraguá
Ao contrário da recusa da rodovia por moradores do Morro do Abrigo e Topolandia, população da Costa Norte pede apenas recuo de 100 metros para evitar desapropriações
Leonardo Rodrigues
A última reunião entre a equipe do Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), prefeito, vereadores e população afetada pelo projeto do Contorno Sul, no Centro Comunitário do Jaraguá, na Costa Norte de São Sebastião, teve a promessa do órgão do Estado da oferta de 3 mil a 4 mil vagas de emprego que surgirão com o empreendimento.
Ermes da Silva, gerente de relações institucionais do Dersa, destacou o compromisso da empresa com a geração de emprego e qualificação de mão de obra para que os desempregados da cidade tenham condições de conseguir uma vaga. Ele assegura a instalação de sala para a realização de cursos de qualificação e que isso será uma constante, onde o funcionário terá oportunidade de aprender mais profissões e crescer dentro da firma, desde que se qualifique. “Não vamos trazer trabalho de fora”, promete.
A obra prevista para ser realizada em três anos traz aos moradores o aumento no fluxo populacional, já que o Litoral Norte registra que em outros empreendimentos, trabalhadores de outras cidades se instalaram na região após término da obra. Todavia, a garantia da Dersa é que o número de pessoas vindas de outras localidades é pequeno. Segundo o explanado na reunião de quinta-feira, a obra precisará cerca de 4 mil trabalhadores, desses cerca de 100, apenas, viriam de fora por ser um corpo técnico do projeto. “São moradores, trabalhadores da região”, fala sobre a maioria de operários serem recrutados no Litoral Norte.
“A obra traz emprego e sala de aula com apoio a alfabetização”, comenta Silva. Porém, outra benesse com o advento da obra foi exposta aos moradores, parlamentares e prefeito. De acordo com a Dersa um ganho será com o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) que as empreiteiras vão pagar ao município.
Frustração
A expectativa dos moradores em saber quais e quantas casas estava nos planos de serem desapropriadas foi frustrada pelos organizadores do evento. Isso porque o número de moradias a serem desapropriadas pelo Estado é relativo enquanto não houver uma definição quanto ao traçado, que segundo o prefeito Ernane Primazzi (PSC) já está em sua quarta versão.
Ernane destaca que enquanto não for definido o traçado, as outras questões se tornam secundárias. “Se a gente não acertar o traçado, não adianta discutir o resto”, diz.
Os vereadores fizeram coro a colocação. O vereador e professor Gleivison Gaspar (PMDB) pediu outra reunião com a população, Poder Público e Dersa para esclarecimentos sobre quantas e quais moradias podem ser desapropriadas. O vereador Ernane Primazzi (PSC), o Ernaninho, comentou que a situação pode servir para aumentar a angustia dos moradores. “Não sabemos como é esse traçado”, fala Ernaninho.
O tucano Reinaldo Moreira Filho salientou a importância de se rever o projeto quando se trata de remoção de famílias. “A rodovia é benéfica sim, mas não pode ser a qualquer custo”.
Recuo
Se no Morro do Abrigo e Topolândia a comunidade disse não ao Contorno Sul com desapropriações, no Jaraguá o Dersa ouviu apenas uma condição imposta da população quanto às obras: a de que a rodovia recue apenas 100 metros em trecho que atinge o Jaraguá. De acordo com os moradores, o pequeno recuo possibilitará ao Estado economia, já que se tornaria desnecessário realizar desapropriações naquele trecho.
Tal solicitação foi a única afirmativa, sendo que o restante das outras manifestações populares era de dúvidas quanto à indenizações, datas das desapropriações, etc. “”Governar é decidir por prioridades”, ponderou Ermes ao se referir sobre a necessidade de desapropriações. Ele sai em defesa do projeto que diz ter sido estudado, de maneira técnica, e que as desapropriações era algo que inevitável. O projeto teria sido feito baseado em aspectos de vegetação, geológico, e técnica cientifica sociais e ambientais.
“Vocês acham que queremos desapropriações de propósito? Isso aumenta o custo. Não estamos apresentando um traçado aleatório. Isso foi estudado”, diz o agente da Dersa. Silva revelou também que no processo de licenciamento foram discutidas outras alternativas de traçado que reduziriam as desapropriações, mas que tiveram impedimentos ambientais.
“Eu gosto de omelete, mas para fazer omeletes precisa quebrar os ovos”, exemplificou o agente da Dersa às pessoas que podem ser removidas de suas casas. Contudo, assegurou clareza no trâmite em que as famílias serão cadastradas, indenizadas e posteriormente removidas. Ele também salientou que não será pago o valor venal, antes a avaliação do imóvel será sob o valor de mercado imobiliário regional.
Porém, não satisfez os moradores que preferem ficar onde estão. Um dos populares que questionaram o Estado durante a reunião, o professor Hipólito, ressaltou a importância para a comunidade sobre o recuo de cerca de 100 metros que pouparia diversas casas.
“Precisa-se quebrar ovos, mas os seus não os nossos”, respondeu o professor aos organizadores da reunião.
Ermes diz compreender as críticas ao projeto, no qual classificou algumas como construtivas, bem fundamentadas, porém outras nem tanto, e disse que a Dersa é uma empresa com pessoas sensíveis. Ele salientou também a necessidade da obra, no qual considerou estar atrasada na região há anos. “Talvez se tivessem começado há 10 anos, não tivesse tantas casas”.
Todavia, os moradores puderam ouvir da Dersa que irão estudar a possibilidade de desvio em 100 metros no desenho original. “Mas não tenham a ilusão de que a obra será feita sem retirar ninguém”, alerta Ermes.
Pedágio
Entre questões sobre reassentamento, desapropriação, desvalorização do imóvel, foi também questionado se a nova rodovia não iria trazer também a instalação de pedágios no Litoral Norte. De acordo com a Dersa há sim, essa possibilidade no futuro. Ermes citou que as principais rodovias do Estado são concessionadas. “E aqui não será diferente”, pontua.
Ele explica que no momento não se pensa em pedágios, mas que no futuro possa existir a cobrança na rodovia a fim de manutenção da mesma, o que seria caro aos cofres públicos.
Cerca de 300 pessoas participaram da reunião na noite de quinta-feira, número de público próximo à reunião no Morro do Abrigo. O encontro com a população da região da Topolândia registrou como público mais de 600 pessoas.
Foto: Jorge Mesquita/IL