“Chego pra me unir à igreja, à comunidade de fé que já existe aqui”, diz novo bispo da Diocese de Caraguatatuba
O bispo Dom José Carlos Chacorowski descobriu sua vocação à vida religiosa aos 11 anos
Thereza Felipelli
A Diocese de Caraguatatuba recebeu, no último sábado, na Catedral Divino Espírito Santo, seu novo bispo diocesano, Dom José Carlos Chacorowski. Na cerimônia, ele foi recebido pelo Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, o clero diocesano, bispos, padres convidados e autoridades civis. Após a realização da missa, o bispo recebeu cumprimentos no salão social, onde foi oferecido almoço a todos os presentes.
“Chego pra me unir à igreja, à comunidade de fé que já existe aqui, o padre Xavier estava cobrindo uma vacância e deu continuidade ao trabalho. Temos todas as diretrizes da pastoral da igreja do Brasil, temos o conselho que está sendo redescoberto anos depois, temos o evangelho que é a guia da vida cristã. Agora só temos que fazer uma leitura disso com os óculos caraguatatubenses”, declarou, em entrevista. “Sei que aqui tem uma tradição longa, aqui andou o beato José de Anchieta, e é uma tradição belíssima. Gosto de descobrir essas essências. É preciso resgatar cultura e tradição. Aqui tem caiçaras, comunidades”, continuou o bispo, que comentou ainda que terá condições de visitar as comunidades de cada uma das 17 paróquias da região. “Não vou ficar só nas sedes, faço questão de ir ao interior mesmo”.
Quem é ele?
Em entrevista a reportagem, o bispo contou um pouco sobre sua trajetória. Ele nasceu em Curitiba, Capital do Estado do Paraná em 26 de dezembro de 1956. Descobriu sua vocação à vida religiosa aos 11 anos, quando disse ao seu pai que queria ser missionário. “Procuramos vagas em vários seminários e o único que tinha vagas tinha uma mensalidade muito alta e não podíamos pagar”, contou. “Um tempo depois ele procurou um seminário dos padres vicentinos (Seminário Menor São Vicente de Paulo), em Araucária, vizinha a nossa cidade, e lá fui matriculado aos 11 anos”, continuou Chacorowski, que fez então o secundário no seminário, estudou filosofia e, em 77, em Curitiba, ingressou provisoriamente como membro da congregação da missão. Começou a estudar teologia, o que concluiu em 80. Neste mesmo ano o papa João Paulo II estava em sua primeira visita ao Brasil e o cardeal no Rio de Janeiro perguntou a todos os diáconos daquele ano se algum deles queria ser ordenado padre pelo papa, porque haveria uma celebração no Rio de Janeiro. “Não pensei duas vezes”, lembrou o bispo.
Em seguida, foi professor no Seminário Diocesano da Diocese de Palmas, interior do Estado do Paraná, no ano de 1981. De lá, seguiu para missões no Zaire (hoje República Democrática do Congo) em janeiro de 1982, de onde voltou em dezembro de 1987 devido a uma terrível crise de malária. Lá, visitava aldeias fazendo um trabalho de evangelização. “Fui a lugares onde nunca missionários brancos haviam chegado. Mulheres e crianças fugiam com medo”, contou ele, que teve que passar alguns meses antes da viagem estudando o dialeto daquele povo, para que a língua não fosse uma barreira.
Zé da Estrada
Filho de caminhoneiro, quando voltou da África, ficou conhecido como Padre “Zé da Estrada” tendo feito parte da Pastoral Rodoviária, dando atendimento nas estradas a caminhoneiros e viajantes de 1988 a 1996. “Usávamos um caminhão capela. É um furgão, na parte de trás fica um altar, uma aparelhagem de som, tudo pronto pra celebrar a missa no pátio do posto. Até chegar a noite tínhamos um roteiro e íamos visitando postos em beiras de estrada, apresentando o trabalho e a programação. Fazemos confissão, missa, comunhão, benção das chaves e caminhões. A maior reclamação deles é de falta de segurança”, destacou o bispo, que fez questão de comentar que a vinda do papa Francisco ao Brasil provocou uma grande mudança em muitos corações brasileiros. “A mudança ainda está acontecendo, ao menos é o que ouvimos pela imprensa, que reagiu de forma extraordinária sobre a boa impressão que teve toda a sociedade brasileira, inclusive os evangélicos, ateus, os não ligados a nenhuma igreja. Todos de repente se despertaram pra algo bonito, novo, interessante, principalmente numa época em que não temos grandes lideranças mundiais. O papa vem ocupar um espaço vazio apresentando com simplicidade Deus, a vida religiosa, de fé”.
A Diocese
Criada em março de 1999 e instituída em 1 de maio de 1999 teve como primeiro bispo Dom Fernando Mason (1999 a 2004), transferido para a Diocese de Piracicaba. Como “Sé vacante” a diocese foi administrada pelo Pe. Vilson Dias de Oliveira (2004 a 2006), atualmente bispo de Limeira. Em 2006 toma posse Dom Antonio Carlos Altieri (2006 a 2012), nomeado para a Arquidiocese de Passo Fundo-RS. Neste tempo, a Diocese foi administrada pelo Pe. Inocêncio Xavier.
Foto: Jorge Mesquita/ IL