Secretário de Imprensa da Casa Branca, Jay Carney, diz que convenção contrária ao uso de armas químicas deve ser respeitada
(AE) – Os governos dos Estados Unidos, Reino Unido e França avançam no planejamento para realizar um ataque de 48 horas contra a Síria, informou o site do jornal britânico Financial Times. Segundo a publicação, os alvos seriam instalações militares e o ataque deve acontecer no final de semana. A decisão, no entanto, não tem o apoio da Rússia e do Irã, que alertaram a comunidade internacional sobre possíveis intervenções militares contra a Síria podem ser catastróficas para a região.
Ontem, o governo do presidente Bashar Assad prometeu usar “todos os meios” para conter um ataque ao país, mas cresce o número de países que se mostram favoráveis a uma ação militar contra a Síria, principalmente se ficar provado que a morte de centenas de civis na quarta-feira nas proximidades de Damasco foi provocada por armas químicas.
Segundo o jornal, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente da França, François Hollande, vão convocar seus conselhos de segurança nacional para concluir os planos de ataque. Cameron antecipou a volta do recesso de verão do Parlamento para quinta-feira para discutir a questão síria.
Em uma reunião de emergência realizada ontem no Cairo, a Liga Árabe responsabilizou o governo sírio pelo suposto ataque com armas químicas e pediu também que os responsáveis sejam levados à justiça e que o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) supere suas divergências para implementar “medidas de dissuasão contra os perpetradores desse crime atroz” A Síria está suspensa da Liga Árabe desde 2011.
Resposta militar
A Casa Branca defendeu a necessidade de uma resposta militar aos recentes ataques com armas químicas ocorridos na Síria, mas negou que qualquer eventual ação tenha como objetivo a deposição do presidente Bashar Assad. O secretário de Imprensa da Casa Branca, Jay Carney, argumentou em entrevista coletiva concedida ontem que os Estados Unidos e mais 188 países são signatários de uma convenção contrária ao uso de armas químicas. Segundo ele, todos esses países têm a responsabilidade de assegurar o respeito à convenção.
Carney disse ainda que a resposta deve ter como alvo claro a violação a essas normas. “Mas a mudança de regime não está entre as opções que estamos negociando”, ressalvou. Qualquer mudança de liderança na Síria deve ocorrer por meio de “negociações políticas”, concluiu. Preocupado com a possibilidade de a Síria atacar o Estado judeu em retaliação a eventuais bombardeios norte-americanos, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que seu país responderá “com força” caso venha a sofrer um ataque militar sírio.
Já a Itália desconsiderou a possibilidade de tomar parte numa intervenção militar na Síria sem a aprovação do Conselho de Segurança ONU, afirmando que não há alternativa a uma “solução politicamente negociada”.
“A Itália não fará parte de qualquer solução militar sem um mandato do Conselho de Segurança”, disse a ministra de Relações Exteriores Emma Bonino a parlamentares em Roma.
“Não há uma solução militar para o conflito sírio. A única solução é uma solução politicamente negociada”, disse ela, pedindo “grande determinação” para que os dois lados negociem.
Congresso
Mas a possibilidade de uma intervenção militar norte-americana na Síria já começa a enfrentar alguma oposição no Congresso dos Estados Unidos. Tanto na Câmara quanto no Senado, congressistas democratas e republicanos exigem que o presidente Barack Obama busque a autorização do Congresso para qualquer eventual ataque contra a Síria. Ao mesmo tempo, depois de mais de uma década de guerras mortíferas e custosas em países muçulmanos distantes, os norte-americanos opõem-se ao engajamento direto em um novo conflito na região.
O governo sírio “deve ser responsabilizado pela violência indiscriminada” e também pelos “desprezíveis” ataque com armas químicas, defendeu o senador democrata Tim Kaine. “Mas os Estados Unidos não devem se engajar em uma ação militar sem autorização do Congresso”, pondera.
Na Câmara dos Representantes, o deputado Scott Rigell conclama seus colegas a assinarem uma carta endereçada a Obama na qual é pedido a ele que reúna o Congresso e busque autorização do legislativo para qualquer eventual ação militar.
“Engajar nosso exército na Síria sem que exista ameaça direta aos Estados Unidos e sem uma autorização prévia do Congresso viola a separação de poderes claramente delineada na Constituição”, argumenta Rigell na carta.
“Temos defesas que surpreenderão o mundo”, diz ministro sírio
(AE) – O ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid Moallem, desafiou Washington a apresentar provas de que o regime do presidente Bashar Assad usou armas químicas em ataques nos arredores de Damasco. Segundo a autoridade, a Síria usará “todos os meios disponíveis” em caso de um ataque dos EUA e “tem defesas que poderão surpreender o mundo”.
“Temos duas opções: ou nos render, ou nos defender com os meios à nossa disposição. A segunda opção é a melhor: vamos nos defender”, disse Moallem em uma entrevista coletiva.
O ministro também afirmou que o seu país possui meios de defesa que devem “surpreender” o mundo e que qualquer ação contra Damasco servirá os interesses de Israel e da Al-Qaeda. “A Síria não é um caso fácil. Nós temos defesas que surpreenderão os outros” países, disse ele.
“O esforço de guerra liderado por Estados Unidos e seus aliados vão servir os interesses de Israel e, em segundo, a frente Al-Nusra”, um grupo de jihadistas ligados à Al-Qaeda na Síria, disse Moallem. O ministro desafiou os Estados ocidentais a apresentarem provas de que o regime do presidente sírio havia usado armas químicas durante os conflitos com os rebeldes.
“Estamos ouvindo tambores de guerra ao nosso redor. Se eles querem lançar um ataque contra a Síria, eu acho que usar a desculpa de armas químicas não é legítimo. Eu os desafio a mostrar quais provas eles têm”, disse Moallem.
Evidências
Na última segunda-feira, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou que o emprego de armas químicas na Síria é “inegável e indesculpável” e acusou o governo da Síria de ter destruído evidências do uso desse tipo de armamento. De acordo com Kerry, os Estados Unidos e seus aliados estão analisando informações sobre o emprego de armas químicas na Síria e o presidente norte-americano, Barack Obama, acredita na necessidade de responsabilização dos culpados, mas ainda avalia a melhor maneira de reagir.
Kerry enfatizou que ataques com armas químicas desafiam o “código de moralidade” e deveriam “chocar a consciência do mundo”.
Sobre seus aliados, Walid Moallem disse que a Rússia não vai abandonar o regime de Damasco. “Posso assegurar-lhe que a Rússia não abandonou a Síria. Nossas relações continuam em todos os campos, e agradecemos a Rússia pelo seu apoio, não só em defesa da Síria, mas também a sua própria defesa”, Moallem disse em entrevista coletiva em Damasco.
Foto: Divulgação