Comunidade foi para a Tamoios e por quase três horas cobrou do governo mudanças no traçado
Acácio Gomes
Um grupo de aproximadamente 50 moradores dos bairros que serão afetados com as obras dos Contornos Norte e Sul, em Caraguá, aproveitou o feriado para promover dois protestos na Rodovia dos Tamoios.
Por quase três horas, no sábado, o movimento, mesmo pequeno, conseguiu fazer muito barulho e congestionar por cerca de 3 km o trânsito dos motoristas que seguiam em direção ao Litoral Norte.
O protesto ficou concentrado na chegada a Caraguá e os manifestantes portavam cartazes que diziam: “Nascemos aqui e não queremos sair”; “Não queremos sair de nossas casas”; “É mais humano fazer um túnel do que remover famílias e quebrar suas casas”.
Uma das líderes do movimento, Lourdes Santos Silva, 52 anos, disse que o protesto foi para uma mudança no traçado. “Tem como mudar a estrada e diminuir o impacto. O que está faltando é vontade política. Ninguém está nos defendendo e preocupado com a questão. Tem gente ficando doente nos bairros. Então, talvez protestando e saindo na mídia, os políticos se sensibilizem”, esclareceu.
Presente na manifestação, a moradora do Tinga há 20 anos, Ana Lúcia Alves Barbosa, 45 anos, também corroborou a ideia de que há como alterar o traçado. “Se quiserem, mudam sim. Mas não estamos vendo isso. A obra vai começar e não tem casa popular, vão dar aluguel de R$ 430. Não podemos aceitar isso”, disse.
Para Célio César, 45 anos, a obra já foi definida e isso preocupa. “Já passaram nos bairros, marcaram as casas, tiraram foto, fizeram medição. E ninguém fala em valor de indenização”, comentou.
No domingo, um novo protesto foi realizado, desta vez no início da serra, com duração de 10 minutos e com a mesma intenção.
Políticos
Tentando dialogar com os manifestantes, quem apareceu no local a pedido do prefeito de Caraguá, Antônio Carlos da Silva (PSDB), foi o secretário de Serviços Públicos, Sérgio Arnaldo Braz. Por cerca de cinco minutos, ele tentou acalmar os ânimos e sugeriu uma reunião com o prefeito para tratar do assunto.
“Foi marcado e ele (prefeito) desmarcou. Não quer nos receber e nem nos defender. Vamos ter que pedir ajuda ao prefeito de São Sebastião”, gritou uma das moradoras.
Irritado com o comportamento dos moradores, o secretário Sérgio Braz abortou a ideia e saiu do local. “Se não querem abertura de diálogo, não tem problema”, resumiu. Nenhum vereador de Caraguá esteve no local, nem mesmo aqueles que formam a chamada Comissão de Assuntos Relevantes (CAR) dos Contornos, criada recentemente pelo Legislativo e que conta com os vereadores Elizeu Onofre da Silva, o Ceará da Adega (PR), Wenceslau de Souza Neto, o Lelau (PT), e Petronílio Castilho dos Santos, o Loro Castilho (PR).
O protesto foi acompanhado de perto por viaturas da Polícia Rodoviária Estadual e da Diretoria de Trânsito de Caraguá. Pouco depois, houve reforço da Polícia Militar para garantir a segurança de manifestantes e motoristas, já que havia um prévio acordo de liberação de uma das pistas para circulação de veículos por um período de 10 em 10 minutos.
Preocupação
A cada dia que passa a preocupação destes moradores aumenta, pois a Dersa recebeu no início do mês a licença de instalação por parte da Cetesb para as obras do Contorno Norte em Caraguatatuba. Agora, a concessionária pode iniciar ainda este mês as obras de 6,2 km, com prazo de 20 meses para conclusão. O empreendimento integra o lote 1 e ligará a Rodovia dos Tamoios à rodovia Rio-Santos (SP-55), no trecho da praia Martim de Sá, em Caraguatatuba.
Os moradores querem mudanças no traçado para diminuir o impacto nos bairros, assim como informações mais claras quanto às desapropriações, os reassentamentos e o pagamento de indenizações.
Segundo a Dersa, o bairro mais impactado na cidade com as obras viárias será o Tinga, com previsão de 230 famílias atingidas. O cronograma prevê ainda o reassentamento de 68 famílias da Ponte Seca, 32 no Cantagalo, 24 no Rio do Ouro e sete na Casa Branca.
Foto: Mara Cirino/IL
Fonte Imprensa Livre