Região Central de Caraguá tem grande número de ocorrências de água viva
Thereza Felipelli
Dos últimos dias do ano passado até hoje, bombeiros do Salvamar Paulista de Caraguatatuba vêm atendendo inúmeros casos de acidentes com águas-vivas em praias da região central de Caraguatatuba, mais especificamente na Martim de Sá, Prainha e a praia do Centro, alguns dos pontos mais badalados da cidade. Nove casos foram registrados desde o último dia 30, todos na Prainha, onde há maior incidência dessas águas-vivas.
Juliana Carvalho, moradora de Mogi das Cruzes, 29 anos, foi uma das vítimas desse tipo de acidente na última terça-feira, na praia do Centro. Ela estava à beira do mar quando uma água-viva passou em sua perna e ela sentiu uma queimação. Bolhas se formaram no local. Ela passou água do mar na ferida e quando chegou em casa só tinha uma marca na perna.
O corretor Silvio Braz, de Barra do Una, São Sebastião, teve um princípio de choque anafilático em virtude de contato com águas-vivas. “Corri para casa e fui direto tomar uma ducha. Começou a queimar muito dentro da minha garganta e comecei a vomitar, chamaram a ambulância e fui para o Pronto Socorro. No meio do caminho a queimação passou para dentro do meu nariz, comecei a espirrar sem parar. Chegando no Pronto Socorro o médico me medicou com uma injeção, um remédio via oral e uma pomada para conter a alergia, porque estava me dando choque anafilático. Pensei que ia morrer”, contou.
Comum
“A água viva é um animal marinho que nessa época se aproxima mais da costa para se reproduzir. As pessoas entram no mar e se queimam. O ano todo isso acontece, mas nessa época a incidência é maior, até porque tem mais gente na água”, explicou o capitão do Salvamar, Igor Klein, que destacou que no ano passado o maior número de casos foi observado na Prainha. “Estive na Martim no sábado e das 11h às 14h foram 5 ou 6 pessoas machucadas em 500 m de praia”, relatou o capitão, que destacou que algumas pessoas são mais suscetíveis à toxina do animal e têm reações alérgicas mais fortes, como sensação de vermelhidão, náuseas, dores no corpo, vômito, tontura. “A água-viva solta uma toxina quando em contato com a pessoa. Água com vinagre neutraliza a toxina que ainda não entrou no corpo. A gente orienta também que não esfreguem a região porque existem bolsinhas que ela deposita na pele, que vão injetando a toxina no organismo. Se a pessoa esfrega, coça, entra uma maior quantidade de toxina entra no organismo”, salientou Klein, que acrescentou que o ideal é que o ferido procure serviço médico depois, porque pode ocorrer choque anafilático, causando obstrução respiratória. “Em geral os sintomas passam de uma a duas horas depois”, disse.
O capitão ressaltou ainda que não há como prevenir tais situações. “É um animal pequeno, imperceptível, não tem como saber quando está na água ou não”.
Causas e cuidados
De acordo com o biólogo Álvaro Augusto Santos, as águas-vivas surgem com mais frequência nesta época do ano por causa das correntes frias que são abundantes em alimento. “Elas possuem estruturas chamadas de cnidoblastos em seus tentáculos que causam ardor em contato com a pele”, explicou.
O biólogo Augusto Flores destacou que a pessoa que entrar em contato com uma água-viva deve colocar água corrente doce, fria, no local, mais nada. “Caso contrário pode espalhar a toxina. Esfregar também não pode”, disse ele, que explicou que o aumento de águas-vivas nessa época é comum, e não ocorre só aqui na região. “Vários trabalhos indicam aumento da frequência e abundância delas nos oceanos”.
Foto: Jorge Mesquita/ IL