Cinedebate no IFSP abordou o tema da transexualidade
Cinedebate no IFSP-Caraguatatuba abordou o tema da transexualidade
No dia 08 de abril de 2017, sábado, no período da manhã, entre 08h00 e 12h00, ocorreu uma nova sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição do filme “A garota dinamarquesa” e o posterior debate sobre o tema da transexualidade. Esta atividade faz parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de seus bolsistas de iniciação científica João Pereira Neto, Rafael Brock Domingos e Adriana de Andrade. Após a exibição do filme ocorreu uma mesa-redonda composta pelas professoras Renata Plaza Teixeira e Melissa Müller com o objetivo de refletir s obre assuntos como transexualidade, transfobia e o direito à diversidade sexual.
O filme “A garota dinamarquesa” conta a história de Lili Elbe (1881-1931) que foi uma das primeiras pessoas transgêneras a fazer uma cirurgia de redesignação sexual (que se chamava “cirurgia de mudança de sexo”); antes desta operação ela era um homem atormentado que pensava no suicídio em função se sua transexualidade e dos preconceitos sociais existentes a este respeito: o bem-sucedido pintor Einar Wegener que foi casado com uma mulher, a também artista Gerda Wegener. O trailer deste filme pode ser visto no link: <https://www.youtube.com/watch?v=vjq2FgjpXow>.
O diretor desta película produzida em 2015 foi Tom Hooper. O ator que interpretou Lili Elbe/Einar Wegener foi Eddie Redmayne (que um ano antes deste filme venceu o Oscar pela sua interpretação do físico Stephen Hawking no filme “A teoria de tudo”) e a atriz que interpretou o papel de Gerda Wegener foi Alicia Vikander (que venceu o Oscar como atriz coadjuvante, por esta interpretação).
Após a exibição do filme ocorreu uma mesa-redonda sobre os temas abordados nesta obra cinematográfica. A Profa. Dra. Renata Plaza Teixeira (que é docente de psicologia do IFSP-Cubatão), para preparar o público para a sua reflexão, exibiu um interessante vídeo de 5 minutos produzido pela atriz australiana Ruby Rose que pode ser visto em <https://www.youtube.com/watch?v=EyY7MY3R8Fs>; a respeito de sua identidade de gênero, Ruby afirmou: “Eu tenho o gênero fluido e a cada dia em que eu me levanto me sinto cada vez com um gênero mais neutro”. Em seguida, a professora Renata fez uma apresentação intitulada “A psicologia e a garantia do direito à diversidade sexual”, em que conferiu destaque às diferenças existentes entr e identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico. Na sequência, fez referência a pessoas trans conhecidas e que atuam em diversas áreas profissionais, tais como Roberta Close, Laerte, Thalita Zampirolli, Lea T, Candy Mel, Laverne Cox, Aydian Dowling, João Nery, Ben Melzer e Chaz Salvatore Bono.
Muitas pessoas trans enfrentam dificuldade para obter emprego, pois o nome que consta dos documentos não é compatível com sua identidade de gênero. Assim, a ação judicial de retificação de prenome (“mudança do primeiro nome”) e de sexo nos documentos é fundamental para a proteção da pessoa contra o preconceito, contra situações constrangedoras e contra a violência, contribuindo para a garantia de sua dignidade. Entre os direitos essenciais da pessoa humana protegidos pela Declaração Universal de Direitos Humanos, figuram os direitos da personalidade, entre os quais, o direito à identidade: assim, é necessário garantir o direito à identidade de gênero de todas as pessoas e combater as diversas formas de preconceito existentes, tais como transfobia, homofobia, lesbofobia, bifobia, LGBTfobia etc. A este respeito, o pro fessor Ricardo Plaza lembrou, durante a discussão, que é lamentável o retrocesso existente quando a homofobia é retirada da lista de preconceitos que devem ser combatidos nos processos educacionais, como propõe a versão da Base Nacional Curricular Comum apresentada no início de abril de 2017: os trechos que defendiam o respeito à diversidade tiveram os termos “orientação sexual” retirados em relação às versões anteriores, conforme informação veiculada no dia anterior a este cinedebate pela própria Agência Brasil (<http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-04/mec-retira-termo-orientacao-sexual-da-versao-final-da-base-curricular >) e por outros veículos da imprensa (<https://theintercept.com/2017/04/07/mec-corta-homofobia-da-lista-de-preconceitos-que-devem-ser-combatidos-na-educacao/>).
O movimento de despatologização das identidades trans caminha nesse sentido, pois atua em prol da dignidade dessa população. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, no “Manifesto pela Despatologização das Identidades Trans” (<http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=365>): “Os estudos de Gênero e as próprias experiências vividas por pessoas trans demonstram que a concepção binária de gênero presente no ocidente e o alinhamento entre sexo, gênero e desejo não são algo ‘natural’. A ideia da existência de dois gêneros opostos, feminino e masculino, baseada na diferença entre os sexos, é algo constru&iacut e;do culturalmente. A realidade de sexo, de gênero e do corpo não pode ser imposta. Ela tem que ser observada nas formas e experiências do indivíduo e do grupo.”
Em seguida, a professora Melissa Müller, que á uma transexual ativista e docente da rede estadual de ensino de Caraguatatuba, em sua fala inicial, lembrou que todos nós, de vez em quando, pensamos em mudar algo no nosso corpo: pintar o cabelo, fazer uma tatuagem, frequentar uma academia para emagrecer, submeter-se a uma cirurgia plástica etc. Ela enfatizou também que muitas pessoas transexuais se prostituem por questões financeiras e por falta de oportunidades no mercado de trabalho e nos estudos. Foi lembrado adicionalmente que uma grande parcela da convivência social entre seres humanos é homoafetiva: homens muitas vezes estruturam grupos de amigos masculinos e o mesmo fazem as mulheres com grupos de amigas; da mesma forma, um pai que ama seu filho estabelece uma relação de convivência homoafetiva com ele, e uma relação semelhante ocorre com o carinho existente entre uma mãe e sua filha. Melissa declarou que se considera feminista, até mesmo pelos assédios que já sofreu, e destacou a importância do direito ao nome social, pois este é o nome reconhecido pela sociedade, como ocorre no caso de um apelido muito usado que é agregado oficialmente ao nome de uma pessoa: este é o caso, por exemplo, de diversos políticos.
Assim sendo, é crucial garantir às pessoas transexuais o completo exercício da cidadania e a consequente concretização do princípio da Dignidade da Pessoa Humana, para que sejam combatidas injustiças e desigualdades: isto é importante não só para a pessoa transexual como também para toda a sociedade. A negação de direitos à população trans implica o reforço à discriminação e à estigmatização, além de contribuir para a manutenção da marginalização desse grupo. Ademais, pode configurar a ausência de reconhecimento do direito de existir, de amar, de desejar e de ser feliz. Infelizmente, os dados indicam que o Brasil é um dos países em que mais se matam travestis, o que demonstra a importância de eventos como este cinedebate.
O público presente que praticamente lotou o auditório do IFSP-Caraguatatuba, incluiu pessoas da comunidade externa ao IFSP-Caraguatatuba, bem como estudantes de diversos dos cursos superiores e técnicos da própria instituição. As professoras Shirley Pacheco de Souza, Priscila Cristini dos Santos e Jaqueline Lopes, docentes do IFSP-Caraguatatuba, acompanharam seus alunos que participaram deste cinedebate. Também estiveram presentes a esta atividade acadêmica, a professora Carmen Cibelle Theodoro Mendes (da Escola Estadual Colônia dos Pescadores), a Profa. Dra. Alessandra Marins (de biologia), Thífany Félix (que foi candidata a prefeita de Caraguatatuba em 2016) e Cláudia Ottini (jornalista da Secretaria da Comunicação Social de Caraguatatuba).
As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.
As opiniões e os pontos de vista manifestados nas atividades descrita neste texto não necessariamente refletem a posição institucional do IFSP e são de inteira responsabilidade das pessoas que manifestaram tais opiniões e pontos de vista.