Desde abril 2019, o Ambulatório de Saúde Mental de Caraguatatuba, no Jardim Primavera, tem direcionado seus atendimentos psiquiátricos e psicológicos, exclusivamente, para crianças e adolescentes com até 17 anos.
Os dados do ambulatório são preocupantes e mostram que, no mesmo ano, foram notificados 174 casos de ideações suicidas de crianças e adolescentes, superando os números de 2018 quando foram feitas apenas 48 captações de ideações suicidas.
Ainda de acordo com os dados do ambulatório, crianças e adolescentes com até 17 anos do sexo feminino representam a maioria das notificações. Entre 2018 e julho de 2021, foram 219 contra 101 registros em crianças e adolescentes do sexo masculino.
Por mês, a unidade realiza, em média, 180 atendimentos psiquiátricos e 120 psicológicos. Porém, de março a abril de 2020, o atendimento do ambulatório foi estritamente remoto devido às protocolos sanitários de prevenção à Covid. Todos os dias a equipe fazia o monitoramento de seus pacientes, via telefone.
Durante a pandemia da Covid-19, as notificações de casos de ideações suicidas diminuíram em 63%. No ano passado, o ambulatório registrou 63 ideações e até julho de 2021 foram 35.
A coordenadora do ambulatório, Érica Perroni, conta que “a pandemia contribuiu para que as pessoas ficassem mais isoladas e muitas não saiam de casa; além da questão de que os serviços de saúde ficaram mais direcionados à Covid, por isso essa diminuição. Mesmo assim, a equipe conseguiu captar esses casos”.
Após perceber uma piora por conta do isolamento da pandemia, o ambulatório voltou a atender presencialmente no mês de julho. “Muitos deles estavam piorando e tendo crises, o que acabou gerando um aumento expressivo na entrada dos nossos adolescentes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por automutilação e suicídio”.
De um modo geral (crianças, adolescentes e adultos), somente no primeiro quadrimestre de 2021 o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) atendeu 44 chamados de tentativa de suicídio. Também foram atendidos 130 chamados de psiquiatria e 56 de surto psicótico.
Como era?
Antes de o ambulatório passar a atender apenas crianças e adolescentes, toda a saúde mental no município era unificada. Adultos, crianças e adolescentes faziam acompanhamento no mesmo local. Hoje, os adultos têm à disposição o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II), no Sumaré.
A decisão de atender esse público proporcionou um melhor direcionamento. De lá pra cá, a equipe percebeu que houve um melhor avanço na qualidade do serviço. O que facilita na realização de ações como, por exemplo, o ‘Setembro Amarelo’ e atividades.
Ações do ambulatório
O ambulatório realiza nas escolas palestras com foco na prevenção ao suicídio, além de oferecer ajuda à criança e ao adolescente para que ele identifique a ideação suicida a partir de sinais e sintomas, seja para ele ou algum colega.
O objetivo é mostra que ele está seguro para se expor e contar quais são as suas mágoas.
Érica explica que “as palestras são motivacionais e preventivas no sentido de saber que eles não estão sozinhos e que o município possui bons equipamentos que proporcionam tratamento e acolhimento se despindo de crenças e ideologias”.
Quando e como buscar ajuda?
Fique atento aos sintomas e sinais e preste atenção no adolescente ou criança. Ela ou ele pode ser seu amigo, filho, sobrinho. É preciso tentar identificar o porquê dele não estar mais conversando, de ficar mais isolado ou o motivo de não de ir à escola.
Entre os sintomas mais frequentes da ideação suicida estão: angústia, mudança de hábitos alimentares (perda de apetite, por exemplo), alteração no sono, isolamento social, irritação e agressividade e automutilação.
“Às vezes, o meu amigo não busca ajuda, mas eu posso buscar ajuda por ele; isso é empatia”, ressalta a enfermeira.
No Brasil, existe um canal de telefônico de ajuda que conta com profissionais capacitados para atender esses casos, o Centro de Valorização da Vida (CVV).
O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, 24 horas todos os dias.
Os adolescentes e crianças também podem encontrar ajuda nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Caraguatatuba.
Os enfermeiros do Programa de Saúde da Família (PSF) das unidades serão responsáveis por fazer a captação e o acolhimento necessário. Eles irão preencher a ficha do SINAN. Uma ficha de notificação de agravos à saúde.
Qualquer profissional poderá preencher o SINAN. O ambulatório capacitou os setores públicos como Educação, Social e Cidadania (CRAS e CREAS) e Esportes porque essa faixa etária tende a buscar ajuda naquela pessoa em que sente confiança.
Com a ficha do SINAN preenchida, a Secretaria de Saúde encaminha o adolescente ao ambulatório para o acolhimento e tratamento. O prazo para que ele seja atendido é de, no máximo, 72h.