Os idosos, sem dúvida nenhuma, foram os mais afetados desde que a pandemia do novo coronavírus se espalhou pelo mundo, há quase dois anos. Mais vulneráveis imunologicamente e sem medicamentos ou vacina para controlar a doença, tiveram que se isolar do convívio social e foram muito abalados emocionalmente.
Em Caraguatatuba, as atividades oferecidas pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso (Sepedi) por meio do Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência e ao Idoso (Ciapi) ao público idoso, foram suspensas no início da pandemia. A retomada ocorreu no início deste mês.
Para a volta das ações, o Instituto de Desenvolvimento de Gestão, Tecnologia e Pesquisa em Saúde e Assistência Social (IDGT), que administra o Ciapi, além das aulas de alongamento, bocha tradicional, bocha sentada, ginástica funcional, pilates, tai chi chuan, zumba, incluiu dois novos trabalhos: o grupo psicossocial e o grupo de reabilitação pós-covid.
O grupo de terapia se reúne nas segundas e quartas, sob o comando da psicóloga Isabela Gobetti Leite e tem como principal objetivo trabalhar angústias e ansiedades desencadeadas pela pandemia, como também exercícios para melhorar as funções cognitivas.
“A maioria ficou trancada em casa. Deixou de ter contato com filhos, netos e amigos, outros ficaram sozinhos mesmo. Uns tiveram perdas de pessoas queridas por causa da Covid-19 ou por outra doença e não puderam se despedir em uma cerimônia, vivenciar o luto. Essas vivências acarretaram uma perda cognitiva considerável em muitos deles. Passaram a ter “esquecimentos” frequentes. Nosso trabalho é conversar sobre as tristezas e preocupações geradas nesse período e exercitar o cérebro com exercícios como o sudoku, caça-palavras, jogos de memória, de atenção, ábaco, entre outros, para que eles possam se sentir seguros novamente ao retomarem a rotina”, explicou a psicóloga.
O aposentado Francisco Nagy, 71 anos, está frequentando as sessões em grupo. “Tomei um grande susto quando a Covid-19 estourou no mundo. A princípio, nem eu nem minha esposa não saíamos de casa para nada. Pedia entrega de comida. O contato com a família era de longe sem poder encontrar, abraçar e beijar. Tudo isso me gerou muito medo e ansiedade. Agora saio, vou ao supermercado, farmácia, ao Ciapi sempre de máscara e usando álcool em gel. Estar nesse grupo tem me ajudado a conversar com outras pessoas sobre o que passamos e como encarar a vida nessa situação”, contou.
O mesmo passou Maria de Lourdes da Silva Binder, 66 anos, que ficou em casa com o marido sem contato com filhos e netos. “Não saia para nada. Meu marido era quem fazia compras. A convivência com os amigos do Ciapi me fez muita falta. Nesse período perdi muitos amigos por causa da Covid-19 e recentemente meu marido por causa de um infarto. Esse grupo de terapia tem me ajudado muito a enfrentar minhas angústias”, declarou.
Fisioterapia pós Covid-19
O grupo de fisioterapia é voltado para quem teve Covid-19 e apresenta sequelas físicas. O fisioterapeuta responsável, Marcelo Barbosa, explica que a Covid-19 desencadeou outras doenças nos pacientes como trombose, Acidente Vascular Encefálico (AVE), insuficiência respiratória, entre outras.
“As sequelas do pós Covid-19 podem ser várias, como perda da capacidade pulmonar, motora, crises de ansiedade, etc. Aqui, a gente trabalha exercício cardiovascular, de força muscular, flexibilidade, alongamento e também a convivência social”, disse Barbosa.
A aposentada Vassiliki Messinis, 88 anos, teve Covid-19 em dezembro do ano passado, ficou dois meses internada sendo 25 dias na UTI, mas não precisou ser intubada. Ao ter alta ficou ainda um mês em uma cadeira de rodas, sem ter forças para andar ou fazer qualquer outra atividade sozinha.
“No hospital, já iniciei a fisioterapia. Depois, continuei em casa. Soube do grupo de pós Covid-19 do Ciapi e me inscrevi. Há 15 dias voltei a dirigir e estou andando com o auxílio de uma bengala. Já fiz duas sessões e estou gostando muito. Os profissionais são muito atenciosos”, declarou.
Apesar das sequelas como falta de olfato e paladar, fraqueza e falha na voz, a idosa está confiante e pretende retornar para as aulas de hidroginástica, no Ciapi. “Fazia as aulas na piscina, antes da pandemia. O professor me fez perder medo de estar na água e as aulas me fazem muito bem, assim como conviver com outras pessoas, aqui”, afirmou.