Comunidade teve encontro em uma igreja do bairro para explanar preocupações
Mara Cirino
Cerca de 200 pessoas, entre moradores e vereadores, se reuniram na manhã de ontem, no bairro Tinga, região central de Caraguatatuba, para discutir um posicionamento sobre as obras do Contorno Sul que prevê a desapropriação de centenas de casas no bairro. Uma comissão com representantes da comunidade foi criada para fazer o acompanhamento junto com Comissão de Assuntos Relevantes (CAR) do Contorno. Uma das propostas é ir à justiça para evitar que as famílias sejam removidas sem que sejam devidamente indenizadas ou estejam em novas casas com valor correspondente ao imóvel que têm atualmente.
Foi o que deixou bem claro o coveiro Amario Pereira Gomes, 44 anos, um dos integrantes da comissão. “Eles estão todo legal, fazendo tudo dentro da lei. Por isso proponho, agora, que também vamos à justiça para permanecermos nas nossas casas até que as outras, as que serão construídas pelo Estado, estejam prontas”, disse e foi aplaudido.
Ele ainda chamou a atenção da comunidade para o fato de que o processo já vem rolando há algum tempo e até então não havia ocorrido essa participação, esse interesse dos moradores. “Temos de ficar unidos porque pouco se fez pela população do Tinga nessa história de desapropriação”.
Gomes lembra que sua casa tem quatro quatros, dois banheiros e uma sala grande, avaliada em torno de R$ 150 mil e não sai de lá por menos do que esse padrão que tem.
A professora Lourdes Santos Silva, 52 anos, é outra que tem corrido atrás para evitar que estrada passar por sobre parte de sua residência. “Eles vão passar por dentro do meu terreno, por cima da casa dos meus filhos, vão contornar 10 casas aqui atrás e depois mais quatro lá na frente e nem nos dão a devida atenção em relação a toda essa situação”, conta ela que mora em um terreno de 995 metros quadrados com moradias de outros parentes.
“Tem como mudar esse projeto. Acham que a gente é mendigo. Alguém aqui está disposto a ir para as ruas para lutar por seus direitos?”, conclamou junto à população presente que acenou de forma positiva, inclusive já falando em fechamento da rodovia com pneus em dia de maior movimento ou no feriado de outubro.
Outro ponto debatido pela comunidade e que vai ser referendado pelas comissões é em relação ao valor informado pelo gerente de Relações Institucionais da Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A – Ermes da Silva, do auxílio-moradia, calculado em R$ 430 por aluguel.
O vereador Cristian Alves de Godoi, o Baduca Filho (PDT), tem se mostrado uma ferrenha oposição em relação a essa questão. “A Dersa precisa ver uma forma de indenizar as famílias, mas pelo valor de mercado e não pelo valor venal e muito menos ignorar aqueles que não têm escritura da propriedade porque benfeitorias foram realizadas e devem ser levadas em conta”.
O presidente da CAR do Contorno, vereador Elizeu Onofre da Silva, o Ceará da Adega (PR), destacou a importância desse encontro, lembrando que a partir de agora haverá um trabalho em conjunto com a comissão de moradores em busca de melhor definição para os casos de desapropriações no município. Lembrou, ainda, que comissões semelhantes serão criadas nos outros bairros afetados pela futura obra como Rio do Ouro, Ponte Seca, Pegorelly e Cantagalo. “A participação e união da comunidade, assim como dos vereadores, é de fundamental importância”.
Também integrante da CAR o parlamentar Wenceslau de Souza Neto, o Lelau (PT), frisou aos moradores presentes na reunião que essa união trouxe resultado positivo para os moradores de São Sebastião que por várias ocasiões conseguiram a alteração do traçado e ainda negociam com a Dersa.
Já o vereador Agostinho Lobo de Oliveira, o Lobinho (PSDB), destacou que “ninguém vai botar o caminhão aqui para retirar ninguém se não estiver tudo definido. A obra é importante para a região, mas o direito dos moradores também”.
Líder do prefeito Antonio Carlos da Silva na Câmara, a parlamentar Vilma Teixeira de Oliveira Santos (PSDB) ressaltou a postura do administrador nas duas audiências realizadas no município onde se comprometeu que nenhum morador seria penalizado com a obra. “A gente tem que dar esse voto de confiança a ele que ele não vai decepcionar vocês”.
Destacou ainda a necessidade da união e que todos estão atentos ao que a Dersa tem feito, se referindo aos discursos diferentes que os representantes da empresa estariam fazendo. “Ano passado vi o projeto onde a estrada não passaria no meio da rua Pixoxó e agora ela passa. Cada vez é uma coisa diferente que eles apresentam. Muitas vezes nos calamos diante da população. Agora estamos juntos”.
Além de Ceará e Lelau também compõem a CAR do Contorno do vereador Petronilio Castilho dos Santo, o Loro (PR). Pelos moradores do Tinga foram escolhidos, junto com Lourdes e Amario Gomes, José Reinaldo dos Santos, Helio dos Santos, Jair Fonseca e Francisco Pereira da Cunha Neto.
Foto: Mara Cirino/IL