Conquista foi nas ondas mais tradicionais do mundo, em Pipeline, no Havaí.
Brasileiro tem apenas 20 anos e conseguiu vencer o recordista Kelly Slater.
Carol Barcellos / Marcelo CourregePipeline, HavaI
Pela primeira vez um brasileiro tornou-se campeão mundial de surfe: Gabriel Medina, de 20 anos de idade. A conquista foi nas ondas mais tradicionais do mundo, em Pipeline, no Havaí.
Conquistar um título mundial no Havaí é o auge da carreira de qualquer surfista. Quando isso acontece aos 20 anos, é porque um talento raro apareceu no esporte. “O Gabriel, com quatro anos, já não queria ajuda e já ficava em pé. A gente ficava impressionado”, conta Simone Medina, mãe de Gabriel.
Em Maresias, no litoral norte de São Paulo, é onde o filho mais velho de Simone nasceu. A prancha sempre foi o brinquedo favorito de Gabriel Medina, mas o menino começou a encarar aquele objeto de um jeito diferente aos nove anos, quando a família ganhou um reforço.
“O Gabriel começou a me chamar de pai, né, então, na hora que ele falou ‘Pai’, eu disse ‘Nossa, que legal, ganhei um filho’”, lembra Charles Rodrigues, pai e treinador de Gabriel Medina.
Padrasto não é um título à altura da relação entre Charles Rodrigues e Gabriel Medina. Esse ex-tri-atleta uniu o gosto pelo surfe ao amor pela nova família, virou pai do dia para a noite e insistiu em treinar aquele menino como gente grande.
“Foi eu e ele, em uma cidade pequena, uma praia pequena, onde a gente foi colhendo informações e tentando estudar o surfe, tentando ver o que seria melhor para o Gabriel, que era muito talentoso. Então, quer dizer, não teve influência muito de outras pessoas, a gente não deu muito ouvido para os outros e acabou dando certo”, conta Charles Rodrigues.
Nos últimos dez anos, os dois viajaram o mundo juntos. Gabriel foi campeão mundial juvenil. “Junior”, conseguiu uma vaga na divisão de elite do surfe aos 17 anos de idade, em 2011, quando ele conquistou a primeira de cinco etapas de vitória no circuito, mais do que qualquer outro brasileiro já fez.
Só neste ano Gabriel conquistou três campeonatos. Um deles na perigosa onda de Teahupoo, no Taiti, contra Kelly Slater, dono de 11 títulos mundiais.
“Ele tem esse negócio, esse instinto competitivo que é natural dele já, e essa calma também, que ele empregava. Juntando isso que ele, na bateria, consegue raciocinar e fazer o melhor dele. E ele não tem medo”, descreve Charles Rodrigues, padrasto de Gabriel Medina.
Medina vai completar 21 anos no dia 22 de dezembro. Neste ano, no berço do surfe mundial, ele conquistou o melhor dos presentes de aniversário. Gabriel também antecipou em alguns dias o Natal de milhões de surfistas brasileiros.
“Esse título vai pertencer a todo brasileiro que se movimentou para que o surfe pudesse ter um espaço de mídia, como está tendo agora, para que pudesse ser respeitado pelas pessoas como um esporte decente, um esporte que dá futuro para muita gente, que faz dar orgulho para um país inteiro. Porque a gente sabe o fenômeno que está se lançando aí”, diz o surfista Teco Padaratz.
Um fenômeno de popularidade, próximo de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, capaz de mobilizar torcedores para os pontos mais remotos do planeta, principalmente por não deixar tanto o sucesso subir a cabeça.
“Eu acho que isso é conseqüência do que ele se tornou no meio disso tudo, porque ele continua um cara simples, humilde e gente boa”, afirma a mãe de Medina, que tem uma vida inteira pela frente para inspirar outros talentos.