Missas simultâneas no Centro de Detenção Provisória marcam início do “Ano Santo da Misericórdia” em Caraguatatuba
Celebrações ocorreram ao mesmo tempo em oito raias do Centro de Detenção na manhã desta terça-feira (15)
Por Ricardo Hiar
A população carcerária do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Caraguatatuba, teve uma manhã diferente nesta terça-feira (15). É que ele foi escolhido pela Diocese local receber a primeira grande ação do “Ano do Jubileu da Misericórdia”. O bispo diocesano, padres, representantes da pastoral carcerária e outros membros da igreja estiveram no CDP para celebrarem missas, simultaneamente, em todas as raias do complexo.
De acordo com o bispo, Dom José Carlos Chacorowski, toda a igreja foi invocada a peregrinar rumo à “porta santa”, que seriam as congregações em todo o mundo, mas os presos e enfermos não podem realizar essa ação. “Essa é uma outra forma deles serem contemplados pelo ano santo e receberam as bênçãos advindas dele. Eles estão fisicamente detidos, mas se forem capazes de entender esta mensagem, poderão descobrir o caminho para a porta da liberdade espiritual”, comentou.
O bispo ainda acredita que cada um pode ter uma segunda chance, mas para isso é preciso experimentar uma mudança de coração. “Algo aconteceu para eles estarem aqui, mas se cada um fizer jus ao nome desse local, um centro provisório, poderão ter essa experiência apenas como passagem para uma vida nova”, completou.
O diretor geral da unidade, Renato Benetti, considerou importante a iniciativa. Ele conta que um sistema especial de segurança foi implantado para receber todos os envolvidos. Segundo ele, os valores familiares e religiosos são fundamentais para qualquer ser humano e não é diferente para a população carcerária. “Hoje foi um dia de paz aqui. Ao entrarmos nas raias, é possível sentir essa paz e eles foram levados à reflexão. Repensar é bom e eles sentiram que alguém acredita neles, se sentem em família”, explicou.
Conforme o diretor, oito raias receberam as celebrações, assim como também os detentos que permanecem no seguro. Ele destacou também a importância da celebração que foi realizada na sequência, pelo bispo diocesano, aos funcionários da instituição.
Atualmente, o Centro de Detenção Provisória de Caraguatatuba possui 1303 detentos, que chegam principalmente das cidades do litoral norte: Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião. Apesar de estar acima da capacidade que poderia atender – cerca de 400 detentos a mais – ele está, proporcionalmente, abaixo dos índices do Estado. Diferente de outros centros, a unidade tem uma cozinha, pavilhão de trabalho e escola. “Oferecemos algumas oportunidades para eles, se quiserem essa mudança. A unidade é excelente em comportamento, não temos graves problemas nesse sentido. Ações como a de hoje, só deixam o saldo ainda mais positivo”, concluiu.
As missas
Uma mistura de sentimentos prevaleceu nas raias do CDP de Caraguatatuba, durante a celebração das missas. Apesar de alguns preferirem não participar da ação e continuaram com a rotina do dia-a-dia, uma grande parcela estava atenta para ouvir os celebrantes. Mesmo sob forte sol e calor intenso, eles ouviram, participaram e conversaram com os voluntários. Alguns aproveitaram para ler a bíblia, outros empolgados cantaram hinos ao som do violão. Houve ainda momentos de reflexão e de compartilhar sentimentos.
Uma das voluntárias trouxe alguns terços para distribuir e logo uma pequena fila de detentos se formou em busca do objeto e, até mesmo, para receber orientações de como rezá-lo.
O padre Mauro José Ramos, após falar com dezenas de presos, abriu o tempo para que eles falassem, agradecendo por algo que possuem. Muitos expressaram gratidão pela ida dos religiosos até a instituição e por compartilharem a palavra. “Eu quero agradecer pela minha mãe, por não desistir de mim”, afirmou um dos detentos.
Padre Mauro aproveitou para falar sobre o importante papel que as mulheres desenvolvem nesse sentido. “De fato temos que ser gratos às mulheres. Os homens, os amigos, acabam desistindo de nós em momentos de dificuldades. Mas as mulheres, as mães, esposas, essas estão sempre lá, para nos dar apoio”, completou.
Julio Cesar do Nascimento, 35 anos, cumpre pena no CDP há seis meses. Ele conta que dá bastante importância a questão religiosa e promove uma espécie de culto todos os dias na raia onde mora. Segundo ele, estar apegado a Deus é uma forma de viver bem e ter esperança de dias melhores.
Ele gostou muito da iniciativa da Diocese e disse que percebe como as coisas simples fazem a diferença nesses momentos. “Cantamos ao som do violão. Quanto tempo não ouvia um violão. Nunca imaginei que ouvir um simples instrumento me. faria tão bem. Foi uma benção de Deus”, afirmou.
“Isso foi um fortalecimento para nós, nos dá ânimo e paz, principalmente nessa época de natal. Quando se está preso, é muito bom ouvir gente diferente. O dia passa até mais rápido”, disse José Antonio Alves dos Santos, 43 anos, que há 11 meses está no CDP.