Petrobras não faz simulado e moradores continuam desconhecendo risco da Unidade de Gás de Caraguá
Quase 50 dias após a data prevista para a realização de um grande simulado, a empresa informa que precisou rever o cronograma. Unidade começou a operar há mais um ano
Ter de conviver com um vizinho perigoso e explosivo sem saber muito que se fazer em uma situação de emergência. Esta é a sensação dos moradores de pelo menos três bairros localizados no entorno da Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA) em Caraguatatuba. A grande preocupação, segundo os próprios moradores é com relação a maneira de se agir caso haja um acidente nas imediações da unidade. O curioso é que no inicio do ano, a empresa havia determinado a realização de um simulado – agendado inicialmente para o dia 30 de junho – e que envolveria comunidade, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e a Prefeitura do Município. Passados quase 50 dias da data estipulada pela própria Petrobras, a assessoria de comunicação informou, por meio de uma nota, que para a realização de um simulado é necessário o envolvimento e deliberação de três setores: poder público, indústria e comunidade. “Para a realização de um simulado é necessário o envolvimento e deliberação desses três setores que integram o Alerta e Preparação de Comunidades para Emergências Locais (Apell).
A Petrobras optou por aprofundar o diagnóstico sobre os bairros incluídos no Apell Caraguatatuba, que já foi iniciado e está em andamento. Dessa forma, foi necessário rever o cronograma de ações. As novas datas das ações serão negociadas com os atores envolvidos no processo e divulgadas oportunamente às comunidades”, diz o texto. Para os representantes das Associações de Moradores a empresa deixou de atender as reivindicações e continua sem muitos planos de ação para resolver a questão. Além disso, os munícipes reclamaram da forma como a empresa realizou a última reunião – promovida no Centro Esportivo Municipal no primeiro semestre. “Na época daquela reunião a empresa não fez a divulgação necessária para a mobilização correta das pessoas. Colocavam papéis de qualquer jeito nas casas das pessoas e não passaram o tal carro de som que tanto falaram. Um descaso total”, disse um dos moradores.
Embora a empresa afirme que está dando andamento no processo do Apell, a população continua preocupada com a falta de detalhes e informações dos procedimentos de segurança. “A empresa até colheu o nome de voluntários, mas, se algum acidente acontecesse hoje, por exemplo, nós não saberíamos quais os procedimentos e o que, de fato, deveria ser feito”, afirmou a diretoria da Associação de Moradores do Jardim Britânia.
A empresa, por sua vez, insiste em dizer que no dia 30 de março deste ano, foi feito o lançamento do processo Apell de Caraguatatuba. “O Apell visa preparar as comunidades próximas às áreas industriais e estabelecer formas de alertá-las para possíveis situações de emergência. Este processo foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas). A primeira área a integrar o APELL Caraguatatuba está localizada no raio de 600 metros à direita e à esquerda do trecho terrestre do gasoduto do Projeto Mexilhão da Petrobras, o Gasmex. Esta área abrange os bairros Pontal Santa Marina, Jardim Britânia e parte do Jardim Aruan”, diz a empresa. A falta de uma data para a realização do simulado de emergências da empresa é uma cobrança antiga da população que, desde o início das operações, em meados de 2011, reclama o convício diário com o risco de um acidente envolvendo o gás, que passa pela região, sem saber ao menos quais as ações e medidas cabíveis para uma eventual fatalidade.
No início do ano e depois de uma série de publicações e das reclamações dos moradores do entorno a empresa garantiu que faria um grande simulado de emergências no dia 30 de junho. Na época, a empresa havia dito que a data foi escolhida por conta da realização dos Jogos Regionais – competição esportiva que reuniu mais de oito mil atletas na cidade e teve sua concentração maior no Centro Esportivo Municipal localizado na área de influencia da UTGCA. Para amenizar a situação, a empresa informa que no primeiro semestre deste ano já foram realizados três treinamentos com os moradores que se inscreveram como voluntários. Os temas tratados foram: Análise de Risco e Produtos Químicos, Primeiros Socorros, e Prevenção e Combate à Incêndio. “O número de voluntários é muito pouco se comparado com o total de moradores atingidos na área de influência”, afirmou um dos moradores.
Histórico
A falta de informações do que fazer em momentos de risco já foi sentida na década de 80, com moradores do entorno do Terminal Marítimo Almirante Barroso, na ocasião ainda Petrobras, em São Sebastião. Um incêndio de grandes proporções no córrego do Outeiro, Centro, fez a cidade viver um dia de calamidade. Segundo moradores contam na época, as pessoas, que desconheciam os riscos, fugiram em direções diferentes, o que provocou um caos generalizado na cidade que tem uma única via de acesso. Na década de 80, ainda um acidente em Cubatão deixou 93 mortos e mais de 4 mil feridos. Em 1984, um forte cheiro de gasolina assustou aos moradores da Vila Socó, uma favela formada por barrados de palafitas suspensos sobre uma área de mangue, em Cubatão – SP. Um duto de gasolina da Petrobras que passa em baixo da Vila iniciou um grande vazamento, jorrando 700 mil litros de gasolina que se alastraram por toda área alagada. Uma faísca provocada por fósforo ou curto circuito em fio elétrico pôs fogo à mistura de água e combustível. As chamas chegaram rapidamente ao oleoduto e provocaram a explosão. De acordo com os dados oficiais foram 93 mortos e mais de 40 mil feridos.
fonte Imprensa Livre