Moradores do Jardim Santa Rosa se preocupam com ocupações irregulares no bairro
Construção de casas em áreas de mangue e aterros clandestinos pode prejudicar ainda mais a questão do alagamento da Lagoa Azul
Josiane Carvalho
Um dia após a notícia de que os moradores do bairro Jardim Santa Rosa, em Caraguatatuba, sofreram durante todo o feriado com a inundação da chamada Lagoa Azul – localizada no bairro – a reportagem do Jornal Imprensa Livre esteve novamente no local e nas ruas onde, até o último sábado, os moradores estavam ilhados e sem condições de saírem de casa.
Com o sol quente e a abertura de uma vala para garantir o escoamento da água, a rotina das cerca de 50 famílias que ali vivem parece começar a voltar ao normal. O que muitos ainda se incomodam é justamente com o aumento considerável no número de casas e lotes que acabam surgindo diariamente em espaços onde há nascentes, lagos e matas ciliares.
“Vivo aqui há muitos anos e nunca vi nada igual a isso. Os alagamentos não eram tão constantes e nós estávamos bastante acostumados a viver da pesca na própria lagoa azul e também das verduras e legumes que plantávamos. Hoje em dia não é mais possível viver assim. O número de pessoas aumentou muito e cada dia que passa isso acaba prejudicando ainda mais nossa vidinha aqui neste bairro”, desabafou o morador Rafael Cordeiro da Silva que há 42 anos vive no mesmo local.
Outro morador, que preferiu não ser identificado contou que todos os dias surgem novos cercados e aterros. “Você vem um dia e as ruas estão de um jeito, no dia seguinte tudo já está modificado. Basta andar pelas ruas do bairro que é fácil perceber o quanto estes terrenos estão sendo ocupados. E o pior, cada pessoa que chega para construir acaba aterrando as áreas preservadas, subindo cada vez mais o nível da rua e prejudicando o escoamento das águas”, explicou.
A reportagem do Jornal Imprensa Livre percorreu algumas ruas do bairro e, de fato, observou o aumento no número de residências. Embora, segundo os moradores, não haver no local água encanada, luz e tratamento de esgoto, as casas de alvenaria surgem aonde menos se espera. Também não é muito difícil encontrar pequenas edículas sendo ofertadas para a venda em placas escritas à mão mesmo sem nenhum tipo de identificação ou nome de responsável, apenas com números de telefones celulares. “Penso que da mesma maneira que estas pessoas compram os lotes sem saber dos problemas existentes no bairro, que está dentro de uma área irregular, estas pessoas tentam sair daqui colocando o imóvel à venda. Terrenos também não são difíceis de serem comprados por aqui, tenho informações que às vezes o lote pode ser ofertado por menos de mil reais”, contou um dos moradores.
De acordo com o secretário-adjunto de urbanismo, Paulo André Cunha Ribeiro, a situação no bairro Jardim Santa Rosa tem uma série de irregularidades que necessariamente precisam ser observadas por quem está sendo orientado a comprar um lote naquela região. “Ali temos uma área denominada Z3, ou seja, com chácaras divididas e vendidas de maneira irregular. Além disso, há áreas de cheia onde necessariamente deverá ser feito um estudo detalhado com recursos do Fehidro para identificar objetivamente onde pode ou não ser ocupado. Já não é de hoje que a Prefeitura vem fazendo a fiscalização e a orientação para as pessoas da inviabilidade de se comercializar terrenos naquele bairro, justamente por não sabermos o que será realmente feito no local. Para se ter uma idéia, já faz algum tempo que não estamos fornecendo nem água nem energia elétrica para os loteamentos na tentativa de coibir o aumento no número das famílias”, explicou Ribeiro.
O secretário se comprometeu ainda a instalar placas informando aos moradores e possíveis compradores de que a região está congelada e proibida de ser comercializada. “Já estamos providenciando a elaboração de placas informativas deixando claro para toda a população de que ali é uma área proibida, congelada e sem muitos recursos para quem estiver interessado em comprar ou vender um terreno naquele bairro”, ressaltou.
Ribeiro fez questão de destacar que já existe um cadastro social elaborado com base nas famílias mais antigas do bairro. “Historicamente entendemos a facilidade de loteamento aumentarem na medida em que há a possibilidade de famílias entrarem em programas de regularização fundiária. E por conta disso é muito importante dizer que as famílias beneficiadas já foram cadastradas e, por isso, dificilmente quem compra ou vende terrenos esperando ser beneficiados no futuro terá algum sucesso com isso. Nós temos a contabilidade exata de quantas pessoas existiam ali, por isso, quando uma pessoa for comprar qualquer lote é importante que eles procurem a secretaria de urbanismo para pedir orientação e descobrir se a área escolhida é regular ou não. Nós temos todas as condições de explicar e orientar as famílias não só do Jardim Santa Rosa, mas, da cidade como um todo”, finalizou.
Foto: Divulgação
Fonte Imprensa Livre