No dia 18 de março de 1967, após uma forte chuva sobre as montanhas e planícies, ocorreu o desmoronamento da Serra do Mar empurrando lama, árvores e pedras sobre a cidade, encobrindo casas, ruas e estradas, alcançando as praias.
Sem energia elétrica e sem comunicação, a população caraguatatubense ficou isolada até 19 de março, quando o radioamador Tomás Camanis Filho e técnicos da Petrobras, juntamente com alguns moradores em esforço coletivo para conectar o equipamento de rádio ao gerador de energia elétrica mais próximo, conseguiram a primeira comunicação com a cidade de Santos.
As Forças Armadas e o Governador Abreu Sodré logo se fizeram presentes e, no dia 21 de março, Caraguatatuba foi encontrada parcialmente destruída, com grandes áreas devastadas e milhares de pessoas desabrigadas. Solidárias, várias cidades brasileiras se mobilizaram mandando equipes de salvamento, alimentos e medicamentos que chegaram através de aviões e navios. De cidades vizinhas, a ajuda chegou até a pé, por estradas tomadas por detrito e lama que não permitiam a passagem de automóveis.
Fala-se em cerca de 400 vítimas fatais, mas jamais se saberá o total exato de mortos, pois uma grande quantidade de pessoas desapareceu soterrada pela lama ou arrastada pelas águas em um período de temporada de verão, com a presença de turistas e veranistas.
A causa desta tragédia foi o expressivo aumento da precipitação pluviométrica (grande quantidade chuva) em Caraguatatuba. Caíram em dois dias 580mm, causando o encharcamento dos morros na área de 200 km² da Serra do Mar, na região da cidade. No Brasil, normalmente, a precipitação pluviométrica é da ordem de 1.000 a 1.200mm por ano.
Como consequência, a geografia da cidade sofreu grande alteração. Muitos morros desapareceram. Vários rios transbordaram ou tiveram mudanças em seu curso como o Rio da Paca, Rio Santo Antônio e Rio Bromado. Fazendas e sítios perderam sua produção sob as águas e lama. A maior das fazendas de toda a região do Litoral Norte, a Fazenda São Sebastião, conhecida como Fazenda dos Ingleses, faliu e seus representantes retiraram boa parte de seus equipamentos e maquinário que havia escapado da destruição, e que contribuía com a estrutura de transportes e lazer na cidade, principalmente com a economia caiçara.
Mas a cidade foi reconstruída por seu povo resiliente e trabalhador. Caraguatatuba evoluiu. Sua população cresceu. Hoje, os caiçaras, com sua rica cultura tradicional, lutam e superam desafios e incertezas como esse período longo de Pandemia lado a lado com moradores de várias origens, mas todos com o coração tomado por amor a essa terra de natureza vibrante, onde o Vento Noroeste canta e levanta a areia da praia, soprando vida, soprando esperança.
Denise Lemes, historiadora.