Esta era a situação da Praia das Cigarras, no norte de São Sebastião,na tarde de sábado
Helton Romano
O óleo que vazou do terminal marítimo da Transpetro, no Centro de São Sebastião, atingiu,na tarde de ontem praias de Caraguatatuba. A informação foi obtida junto a moradores dos bairros Massaguaçu e Cocanha, que entraram em contato com o Imprensa Livre para relatar as manchas de óleo vistas em ambas as praias, na região norte da cidade.
Somente às 18h20 houve a confirmação oficial da Transpetro, incluindo a praia de Capricórnio. Foram detectadas pelotas do produto nas três praias de Caraguá. Durante a noite, barreiras de contenção começaram a ser transportadas para a cidade e cerca de 100 funcionários foram mobilizados para a operação de limpeza.
Horas antes, a assessoria da empresa havia informado o recolhimento de uma mancha de óleo que se deslocava pela Costa Norte de São Sebastião em direção à cidade vizinha. Pela manhã, a Cetesb também descartou a presença de óleo nas praias de Caraguá. Mas à noite, o órgão admitiu o aparecimento.
Em São Sebastião, nove praias sofreram com as consequências do acidente, entre o Porto Grande e a Enseada, segundo anunciou a Prefeitura. Ontem, os trabalhos se concentraram na praia das Cigarras, onde a mancha atingiu também os costões rochosos.
O derramamento ocorreu no final da tarde de sexta-feira, durante operação de abastecimento de um navio no píer do terminal Marítimo Almirante Barroso (Tebar). A quantidade de óleo lançada ao mar e as causas do acidente ainda não foram divulgadas.
Prefeitos
O prefeito de São Sebastião, Ernane Primazzi, acompanhado do prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci, realizou na manhã de ontem uma vistoria no terminal. Eles estiveram reunidos, por mais de duas horas, com o presidente da Transpetro, Sergio Machado.
Após o encontro, Ernane concedeu uma entrevista coletiva. “Tudo indica falha humana”, disse Ernane, em relação à causa do vazamento. “Alguém teria esquecido uma válvula aberta”, completou.
O prefeito também comentou o projeto de ampliação do terminal, que pretende aumentar sua capacidade de operação. “A gente vê com muita cautela esse projeto. Se aumentar a quantidade de navios, cresce a chance de acidentes. Até agora o município não recebeu nenhum pedido de parecer técnico”, ponderou Ernane. Ele ainda aproveitou a oportunidade para cutucar as cidades que querem compartilhar os royalties. “O problema ninguém quer dividir com a gente”, disse.
Por telefone, o prefeito de Caraguatatuba, Antonio Carlos da Silva, cobrou providências da Petrobras. “Precisamos de menos discurso e mais ação”. Para Antonio Carlos, faltou estrutura e agilidade. “Não foi eficaz a tentativa de conter o óleo. Sofremos um dano ambiental de altas proporções”, considerou o prefeito.
Banhistas ignoram alerta
Após o derramamento de óleo no Canal de São Sebastião, a Prefeitura emitiu um alerta, no sábado, para que fossem evitadas as praias das regiões central e norte. Na tarde de ontem, muitos banhistas das Cigarras desconheciam o alerta. “Tinha que ter uma placa avisando”, comentou o instalador de antenas, Marcos Antonio, 51 anos, que mora no bairro do Jaraguá. Ele só notou o problema quando viu o neto saindo do mar com manchas escuras pelo corpo.
Enquanto os banhistas aproveitavam o sol de domingo, dezenas de homens trabalhavam na contenção do óleo, no canto esquerdo da praia. A artista plástica Glaucia Carranca, 50 anos, estava preocupada com as tartarugas que habitam o local. “A praia é o de menos, amanhã está limpa. Mas aqui é um santuário de tartarugas e a gente não sabe o tamanho do estrago”, lamentou Glaucia.
Em razão do problema, alguns quiosques não funcionaram na tarde de ontem. Quem abriu, reclamou do movimento. “Um dia como hoje era para estar cheia a praia”, afirmou Dermival dos Santos, 52 anos, dono de uma barraca que vende alimentos. “O movimento caiu pela metade”, calculou.
A reportagem observou que não havia bandeira da Cetesb indicando a balneabilidade da praia. No fim da tarde, o órgão emitiu nota informando que as praias da Cigarras e do Arrastão estão impróprias para banho. Ambas estavam liberadas até o acidente no terminal da Transpetro. (H.R.)
Secretário de Meio Ambiente ameaça multas e indenização
O secretário de Meio Ambiente de São Sebastião informou que toda a equipe de fiscalização da Prefeitura foi mobilizada para registrar os danos provocados pelo derramamento de óleo. Ele considera o acidente como o mais grave dos últimos 10 anos. “O efeito é prolongado. Só teremos a real dimensão ao longo do tempo”, entende Hipólito.
De acordo com o secretário, a Prefeitura deve multar a empresa responsável. “Para cada ecossistema afetado será lavrada uma autuação”, avisa. Segundo apurou a reportagem, o valor limite de cada multa é de R$ 5 mil. Hipólito também diz que será avaliado um pedido de indenização ao município.
“Temos fazendas de mexilhões, criadouros de camarões e diversas espécies de peixes nesse trecho atingido. As pessoas que trabalham no mar foram prejudicadas”, acrescenta o secretário. Para ele, os costões rochosos vão precisar de um jateamento para limpeza. A estimativa é que leve, no mínimo, 30 dias para a recuperação ambiental. (H.R.)
Mais de 300 pessoas são acionadas para conter avanço do óleo
Mara Cirino
Um verdadeiro arsenal foi montado pela Transpetro conter o avanço do óleo que vazou na noite de sexta-feira pelas praias da região. Mais de 300 pessoas e 27 embarcações trabalharam durante todo o dia de sábado na contenção do produto. Mas não houve jeito ele chegou às praias Deserta, Pontal da Cruz, Ponta do Lavapés e Portal da Olaria, posteriormente atingido a Cigarras e na noite de ontem a região norte de Caraguatatuba.
Segundo o secretário de Meio Ambiente de São Sebastião, Eduardo Hipólito, o óleo que vazou foi o MF320 (Marine Fuel Oil) usado nas caldeiras dos navios. Apesar de todos os esforços, ele informou que a empresa não divulgou a quantidade de produto que caiu na água do mar.
Informações extra oficiais apontam que teria vazado mais de 20 mil litros de óleo e que o erro teria sido humana, uma vez que uma torneira teria ficado aberta. A informação não foi confirmada pelas autoridades.
A Prefeitura de São Sebastião, referendada pela Cetesb, emitiu uma nota alertando a população e turistas para não utilizarem as praias do Centro e Costa Norte de São Sebastião.
O caso também é acompanhado e perto pela delegacia da Capitania dos Porto, em São Sebastião. O delegado capitão de fragata Alexandre Motta de Sousa, esteve no mar e destaca que o vazamento pode ser considerado de médio porte.
No final da tarde de sábado ele alertou que uma mancha com cerca de três quilômetros de extensão se dirigia em direção à Enseada de Caraguatatuba.
As condições meteorológicas e a correnteza foram responsáveis por levar óleo para essa distância. Uma área de aqüicultura próxima à Praia das Cigarras, no norte de São Sebastião, foi afetada. Em Caragua, a preocupação da comunidade foi com a Fazenda de Mexilhão existente na Cocanha e que é uma das maiores do país.
De acordo com a Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião será instaurado inquérito para apurar as causas desse acidente ambiental.
Foto: Altair Farias/Divulgação