Justiça autoriza intervenção no Hospital Stella Maris e atendimento retorna na terça
Prefeitura espera se reunir ainda hoje com a direção da Casa de Saúde para definir os procedimentos de transferência da gestão administrativa
Mara Cirino
O juiz da 2ª Vara Cível de Caraguatatuba, João Mário Estevam da Silva, concedeu ontem, em parte, a tutela de urgência que autoriza a Prefeitura requisitar, imediatamente, pelo prazo inicial de um ano, bens, serviços e a direção da Casa de Saúde Stella Maris, administrada pelo “Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada”, para o fim de atendimento de necessidades públicas urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, conforme Decreto Municipal 92/2013. Por esse documento o prefeito Antonio Carlos da Silva declarou como situação de calamidade pública a falta de atendimento médico para a população. O promotor de justiça, Alexandre Petry Helena, deu parecer favorável ao pedido da administração.
Em seu despacho, o magistrado aponta que “para tanto, compete unicamente ao município, sem qualquer outra necessidade de autorização ou pronunciamento jurisdicional, definir a formação e nomeação de Comissão Gestora Interventora, escolha, nomeação e remuneração de interventor, bem como lhe é de exclusiva responsabilidade a execução de todos os atos inerentes à requisição administrativa civil, tais como contratações e demissões.
Segundo a Prefeitura de Caraguatatuba, a Casa de Saúde Stella Maris deve retomar suas atividades até terça-feira da próxima semana. Hoje, representantes das secretárias de Saúde e Assuntos Jurídicos devem se sentar com a entendida para formalizar os procedimentos para a transferência da gestão administrativa. Após essas definições, o prefeito Antonio Carlos deve baixar decreto de regulamentação da intervenção.
Há uma semana cerca de 70 médicos cruzaram os prazos por estarem com seus salários atrasados. A instituição justificou dificuldades financeiras pela redução no repasse que recebia após a abertura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e fechamento do Pronto-Socorro.
Com a intervenção, a prefeitura pode demitir os médicos em greve e contratar novos profissionais sem a necessidade de realização de concurso público.
A decisão judicial saiu após não haver acordo entre as partes para a retomada do atendimento à população e que a questão financeira seria o principal entrave. “Dentre todos os efeitos decorrentes da inauguração da UPA, os últimos episódios tornam evidente que toda a celeuma e discórdia está enfronhada pelos seus efeitos econômico-financeiros. Tanto é verdade que foi essa a essência do debate travado por ocasião das audiências de tentativa de conciliação realizadas neste Juízo, nos dia 9 de maio e 12 de julho deste ano”, destaca o juiz.
Cautela
Em seu pedido, a prefeitura pedia a intervenção judicial, mas o juiz destacou que o pedido merecia ser analisado com bastante cautela, pois representaria a ocupação temporária da propriedade, bens e serviços da instituição pelo município, ainda que a intervenção no domínio econômico de tal atividade viesse atender necessidades públicas apontadas como de perigo concreto e iminente.
“A cautela se justifica porque não se está diante de uma intervenção judicial, conforme quer fazer crer o autor, pois tal ação afina-se ao ato administrativo conhecido como requisição administrativa civil, e tais institutos são diametralmente diversos, com características e efeitos próprios”.
Até o fechamento desta edição a direção da Casa de Saúde não havia sido notificada da decisão.
Maternidade de São Sebastião está no limite de atendimento, diz prefeitura
A direção do Hospital de Clínicas de São Sebastião (HCSS) informou ontem que chegou ao limite de atendimento à parturientes em sua unidade. A capacidade de atendimento que já estava com um aumento de 200% devido a greve dos médicos da Santa Casa de Caraguatatuba, está esgotada.
De acordo com o interventor do HCSS, Claudio Delgado, já foi preciso emprestar berços para os recém-nascidos do hospital da cidade de Ilhabela, enquanto aguarda a entrega de novos equipamentos comprados pela Secretaria Municipal de Saúde.
Ontem, conforme Delgado, foram realizadas sete cesarianas, sendo a média do município duas cesarianas por dia. “A cada quatro altas na maternidade recebemos mais cinco mulheres para dar à luz”, alertou Delgado.
Outro agravante, segundo o interventor, está no atendimento realizado pela equipe de obstetrícia do hospital. “Médicos e enfermeiros estão trabalhando à exaustão, na sobrecarga”, declarou.
Com a paralisação no atendimento médico da Casa de Saúde Stella Maris, que chega ao seu oitavo dia, o Hospital de São Sebastião registra, além dos 200% de aumento na maternidade, um aumento de 25% no Pronto Socorro e o mesmo índice em exames laboratoriais.
O secretário de Saúde de São Sebastião, Urandy Rocha Leite, se reuniria ontem com a direção do hospital para avaliar a situação e definir quais medidas serão tomadas.
Foto: Luciano Vieira/PMSS