Momento mais polêmico foi quando o vereador Tato Aguilar desistiu de participar da audiência
Acácio Gomes
A Câmara de Caraguá promoveu na tarde da última quinta-feira, a segunda e última audiência pública para discussão de dois projetos oriundos do Executivo. O primeiro deles e mais polêmico, trata da Contribuição de Iluminação Pública (CIP), que pode gerar aumentos que superam os 500% em comércios que consomem altos índices de energia.
Cerca de 30 pessoas e quatro vereadores (Neto Bota, Vilma Teixeira, Carlinhos da Farmácia, Ceará da Adega e Tato Aguilar) estiveram na Câmara para acompanhar a discussão do projeto. Houve bate boca entre autoridades e munícipes, dúvidas geradas sobre valores e até o abandono da audiência por parte do vereador oposicionista Renato Leite Carrijo de Aguilar, o Tato Aguilar (PSD).
Ele alegou que não acompanharia a audiência, pois a Prefeitura não cumpriu com a promessa de enviar secretários ou advogados para que dúvidas fossem sanadas. “Foi promessa que não foi cumprida. Respeito o consultor presente, mas ele não poderá tirar dúvidas sobre legalidade, sobre um decreto de 2001. Me recuso a continuar em função da falta de respeito do Executivo com essa Casa de Leis”, esbravejou.
Tentando acalmar os ânimos, os vereadores Elizeu Onofre da Silva, o Ceará da Adega (PR), e o presidente da Casa, José Mendes de Souza Neto (PSDB), pediram ao colega Tato que ficasse na audiência e que se suas respostas não fossem dadas que questionasse até juridicamente a validade da audiência.
Quem também entrou na discussão foi o assessor parlamentar da Prefeitura de Caraguá, Lúcio Fernandes. “O consultor está apto a responder tudo que está no projeto. Se o vereador (Tato) não entender, pode anular a audiência pública. Só acho que os vereadores que não compareceram não têm interesse”, retrucou.
Sem demover da ideia, Tato Aguilar confirmou que estava deixando a audiência e emendou. “Vou até o fim nisso e não vou deixar a prefeitura lesar o munícipe. Alguém está sendo beneficiado com esse projeto”.
Explicações
Passado a polêmica da saída do vereador Tato Aguilar do plenário, a audiência teve prosseguimento com as explicações técnicas do consultor Edson Neves, da empresa Eletrolex, da cidade de São José dos Campos e contratada pela Prefeitura para realizar o estudo de atualização da nova CIP.
“Foi feito um estudo em 2002 e lá foi apontado que na cidade tínhamos 11.220 lâmpadas de vapor de mercúrio e 2.479 de vapor de sódio, ambas já obsoletas. E mais, que Caraguá tinha apenas 29% de iluminação eficiente e 71% ineficiente. A questão da iluminação é um problema para a cidade, é questão de segurança”.
Ele revelou que no estudo ficou diagnosticado que para realizar toda a expansão de energia na cidade, promover a manutenção e prever um plano de investimento são necessários R$ 950 mil por mês de arrecadação, o que representaria R$ 11,4 milhões ao ano. “Isso já se leva em conta a probabilidade de inadimplência”.
Vereadores e população
Os vereadores presentes também tiveram a oportunidade de questionar. Perguntas sobre casas de veraneio, moradores de baixa renda, aumento nos comércios, preço pago pela consultoria e até a possibilidade de terceirização de serviços foram feitas.
“O estudo feito é pensado para 20 anos de investimento. Não é só para iluminar avenidas, mas bairros periféricos, toda a cidade. O pessoal reclama de pagar, mas se paga e tem o serviço, não vai reclamar. Basta fiscalizar”, disse o consultor.
Edson Neves, porém, não respondeu ao questionamento se há possibilidade de alguns comércios terem aumento superior a 500%. “Não falo de setores, falo em reorganização e adequação de valores”. Ele disse ainda não saber se a Prefeitura de Caraguá vai terceirizar os serviços. “Se vai terceirizar eu não sei, mas acredito que sim. Conheço poucos casos de municípios que tem estrutura própria para isso”.
Sobre a consultoria dada a Prefeitura de Caraguá, por questões éticas e de hierarquia ele preferiu não divulgar o valor do contrato.
O projeto
A CIP é cobrada na cidade desde 2005 e o valor atual é de R$ 1,18 para os consumidores residenciais e R$ 5,91 para os consumidores não residenciais. De acordo com a Prefeitura de Caraguá, se aprovada este ano, a CIP atualizada poderá vigorar a partir de janeiro. A cobrança é mensal e de acordo com o consumo. A média do valor de referência pelo novo projeto passa a ser de R$ 6.
Na justificativa para apresentação do projeto, o prefeito Antônio Carlos da Silva (PSDB) afirmou que o atual sistema de iluminação pública precisa ser remodelado e gerenciado, pois possui considerável grau de depreciação das instalações e índices luminotécnicos abaixo dos valores recomendados pelas normas técnicas. Segundo a propositura, estarão isentos da CIP os consumidores da “classe residencial de baixa renda”, assim definidos pelos cadastros das concessionárias de energia e de abastecimento que operam na cidade.
Emendas
Ao final da audiência pública, a reportagem conversou com o presidente da Câmara, Neto Bota, para saber se o projeto será colocado em votação na sessão da próxima terça-feira (26/11). “Vamos reunir os vereadores, pois deveremos ter emendas. A discussão seria de estabelecer uma taxa fixa. Os grandes comércios podem ter um reajuste considerável”, alertou.
Discussão sobre orçamento para 2014 fica em segundo plano
Na mesma audiência pública na Câmara foi discutido outro projeto do Executivo que estima a receita e fixa a despesa para 2014 da Prefeitura de Caraguá. Segundo o projeto, está previsto para o ano que vem um orçamento na ordem de R$ 422,1 milhões, sendo R$ 131,5 milhões para a Educação, R$ 80,8 milhões para a Saúde, R$ 48 milhões para a Secretaria de Serviços Públicos e quase R$ 24 milhões para a Administração. O projeto prevê ainda um orçamento de R$ 11 milhões para a Câmara e quase R$ 4 milhões ao gabinete.
Os técnicos presentes apresentaram respostas de dúvidas de munícipes como a previsão de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que ficou em R$ 46 milhões este ano e está projetado em 48 milhões para 2014. Os vereadores questionaram também sobre como ficará a arrecadação de Imposto Sobre Serviços (ISS) das empresas que se instalarem no município para obras viárias dos Contornos Norte e Sul.
“As empresas que estarão nas obras do Contorno vão recolher o ISS em Caraguá?”, questionou Neto Bota. “Esse recurso que pode vir entra como no orçamento?”, emendou Ceará da Adega.
Os técnicos afirmaram que as empresas terão de recolher o ISS na cidade e que o recurso que entra é rubricado como excesso de arrecadação.
Horário
Um dos questionamentos feitos por um dos munícipes foi quanto ao horário marcado das audiências públicas. “Esse horário fica complicado. Os senhores deveriam pensar em um horário mais acessível aos moradores, porque o dinheiro público não é para o prefeito, o dinheiro é nosso. Não nego que o prefeito fez grandes investimentos na cidade, mas quero apenas participação e democratização das informações”, desabafou Marcos Gonçalves Jacinto, morador do Poiares.
Em resposta, o presidente da Casa, Neto Bota, disse que sobre os horários a questão está sendo discutida. “Estamos conversando com os vereadores essa questão. Aproveito para ressaltar que estamos tentando colocar a sessão e as audiências para transmissões na internet, mas peço ajuda que nenhuma empresa se apresenta na licitação, ou quando aparecem não tem as especificações técnicas”, comentou.
Foto: Acácio Gomes/IL