Assunto foi tratado ontem no lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2014
Acácio Gomes
No lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2014 no Litoral Norte, a Igreja Católica anunciou que vai encabeçar um abaixo-assinado para reativação do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Litoral Norte, desativado desde o primeiro semestre do ano passado. O documento que compõe o abaixo-assinado será encaminhado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe este ano a formação de uma frente nacional de combate ao tráfico humano, um crime perverso, que atinge todas as nações e de forma muito particular, o nosso país. O Litoral Norte não está fora das pesquisas, que já na década passada, mostravam nossa região, bem como o Vale do Paraíba e Sul de Minas Gerais, como ‘fornecedores’ de jovens mulheres, adolescentes e meninas para uma rota existente na Rodovia Interestadual Presidente Dutra”, cita a igreja.
Segundo o documento, um dos mecanismos para combater esse crime foi a criação em 2010 do Comitê Regional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Litoral Norte.
O assunto foi amplamente discutido na coletiva de imprensa realizada ontem na Catedral Divino Espírito Santo, em Caraguá, no lançamento da Campanha da Fraternidade, que este ano traz como tema “Fraternidade e tráfico humano”. Já o lema será: “É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1)”.
O lançamento contou com a presença do bispo diocesano do Litoral Norte, Dom José Carlos Chacorowski, e da jornalista e membro do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Litoral Norte, Priscila Siqueira.
A cúpula católica vai trabalhar o tema complexo nas comunidades da seguinte forma: identificando os casos de risco; denunciando os casos as autoridades; reivindicando políticas de inclusão às vítimas por parte do poder público; promovendo ações de prevenção; suscitando na palavra de Deus a reflexão da comunidade; e celebrando a morte e ressurreição de Cristo pedindo orações para as vítimas.
“É um crime silencioso onde a vítima tem a dignidade aniquilada e por isso quer se unir para o bem da comunidade. O objetivo principal da campanha é a reflexão desse doloroso crime, identificando os problemas e denunciando”, ressaltou o bispo diocesano do Litoral Norte, Dom José Carlos Chacorowski.
Segundo a jornalista Priscila Siqueira, a reativação do Comitê de Enfrentamento tem vital importância no combate a esse tipo de crime.
“O Litoral Norte é apontado como ‘fornecedor’ de meninas para a demanda da prostituição. Isso é triste. O Comitê vai organizar as ações. O crime é organizado e agora chegou a hora da sociedade se organizar. A igreja vestindo a camisa dessa causa só fortalece o movimento”, disse.
Ela explica que o tráfico humano é uma atividade econômica. “No capitalismo, tudo se transforma em mercadoria e o crime ficou globalizado e visa o lucro. Hoje se compra um ser humano como se comprasse uma água, um refrigerante”.
A Campanha da Fraternidade
A campanha é lançada na região um dia após a quarta-feira de cinzas. O objetivo é despertar nos fiéis a solidariedade acerca de determinado problema vivido pela sociedade. Durante o período da campanha, os católicos vão estudar e escolher as ações de combate ao trabalho escravo a partir deste tema.
Um dos subsídios para a campanha é um cartaz com mãos acorrentadas, sendo que cada uma delas tem um significado, de acordo com a Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB).
A primeira mão acorrentada faz alusão ao trabalho escravo e, apesar de terem mudado os tempos, os índices mundiais assustam. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no mundo todo mais de 12,3 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado e mais 2,4 milhões foram traficados.
A segunda mão faz alusão ao tráfico de órgãos. A terceira se refere ao tráfico de mulheres, que são retiradas de perto de suas famílias para serem exploradas sexualmente e a quarta mão é a mão de uma criança, representando as crianças que são raptadas e traficadas mundo afora.
Foto: Acácio Gomes/IL